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O que está acontecendo pai? |
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Pinky e Cérebro |
Tinha um desenho animado que eu já burro
velho gostava de assistir. Eram dois ratos de um laboratório, um se chamava
Pinky e o outro Cérebro. No fim de cada história Pinky perguntava para o
Cérebro: “O que vamos fazer amanhã Cérebro?” E ele sempre respondia o mesmo bordão: “A mesma coisa que fazemos todas as noites, Pinky... Tentar conquistar o mundo!” Eu estou cansado de seguir esse “script”, de tentar todos os dias “dominar” o mundo... Dessa tarefa perpétua de ser espetaculoso. Dessa maldita competição pelo melhor campo de caça.

Esse mundo não vai minimizar ou compactar a fé que tenho. As vezes minha fé parece uma batata quente que jogo de uma mão para outra, mas nunca a deixei cair...
Quero te contar o que aconteceu comigo no
início deste ano.
Não me lembro em qual manhã de domingo foi, sei que estava dormindo e fui acordado pelo telefone, arrancado dos meus sonhos para as fronhas do meu travesseiro. Atendi: “Alou...” Uma voz feminina respondeu: “Alou, é o Sr. Ricardo?” Bocejando respondi... “É sim, quem é?” “É a enfermeira Rosely do asilo da dna. Malvina. Ela não está bem, o senhor poderia vir até aqui o mais rápido possível?” O que eu tinha nos intestinos se liquidificou! Perguntei: “Mas o que houve?” “dna Malvina teve uma convulsão hoje cedo, bateu com a cabeça e se encontra sedada... É necessário a presença de um familiar para levá-la a um hospital para fazerem uma avaliação.” “Claro, eu estou indo para aí!” Rosely encerra nossa conversa falando pausadamente: “...mas não demora...” Senti um calafrio como a descida brusca de um elevador. Pensei na hora: “Minha mãe morreu!” Trailers de filmes começaram a passar diante dos meus olhos. Cenas com minha mãe, brigas, carinhos, meus desrespeitos, minhas saudades... Lembrei quando meu pai morreu, minha mãe foi uma rocha e dessa rocha tirei a minha força. Minha irmã ficou inoperante e perguntava vez por outro para o constrangimento de todos: “Porque ele está deitado aí? Pai, levanta pai...” Meu irmão ficou inoperante chorando pelos cantos, moído, órfão, tão distante quanto pode ir atrás do nosso pai. E o operacional? Quem encomendaria o caixão? Quem combinaria tudo com o padre? Quem veria à capela? Quem lhe colocaria o terno? Quem preencheria os cheques? Meu pai atravessou o rio e deixou seu corpo para ser enterrado. Fomos nós dois, eu e minha mãe, que fizemos tudo. Eu só não quis vesti-lo, mesmo morto, eu não conseguia tocá-lo... Então, diante da ideia de enterrá-la, me senti totalmente sozinho... Respirei fundo, já não havia tanta pressa, eu estava certo sobre sua morte. Levantei-me, vesti-me, joguei água na cara, tomei um somaliun 3mg, liguei para meus irmãos, liguei para a companhia telefônica e inseri créditos no celular, avisei meus filhos que ficassem em casa e atentos ao telefone, subi na lambreta e fui para a Tijuca. Ao chegar fui ao seu quarto e graças a Deus ela não estava morta, apenas sedada. Em seguida chegou meu irmão branco como uma vela nova. Resolvemos levá-la para a UPP da Tijuca e vimos depois que foi a melhor decisão. Meu irmão foi buscar o carro e a enfermeira a cadeira de rodas. Um grande silêncio foi me envolvendo, a luz se apagou, a tela foi recebendo novas imagens e assisti a um filme completo em 3D de 30 segundos. Um dia a muito do passado, eu era adolescente, e estava deitado na minha cama. Eu havia discutido na noite anterior com minha mãe por um daqueles motivos absolutamente babaca e como quase todo o adolescente, acreditava que meus pais eram idiotas e que eu sabia demais!!! Na manhã seguinte minha mãe parou na porta do meu quarto e chamou pelo meu nome. Eu estava acordado e fingi estar dormindo, fiquei imóvel. Ela então entrou no meu quarto e caminhou lentamente em minha direção, sentou-se na beirada da cama, se inclinou sobre meu corpo e me abraçou por longos minutos... Quantas vezes ela deve ter feito isso quando eu realmente estava dormindo? Naquela época eu não sabia chorar, mas deu muita vontade. Ela nunca soube que eu estava acordado e eu nunca contei isso para ninguém até agora.
Eu vivo beijando e abraçando meus filhos para o eterno constrangimento deles... Sinto como se estivesse também beijando e abraçando meus pais... Como sou idiota!!! Eu e meus pais sempre tivemos muros altos entre nós. Era a minha última chance de dizer para minha mãe que eu a amava profundamente. Pensei: “Ela vai morrer hoje!!” Eu devia isso para mim e devia isso a ela... Olhei para os lados com vergonha de alguém me ouvir... Olhei seu corpo seco e encolhido e disse me inclinando levemente: “Mãe... Mãe eu te amo!!! Então vindo do seu corpo ouvi claramente sua voz me responder: “Eu também amo você...” Um raio gelado me descosturou a alma. Meus olhos se esbugalharam e eu só consegui dizer: “Mãe!?...” Fui tomado por uma arrebatadora emoção, meus dentes trincaram e chorei. Meus ombros balançavam e eu só conseguia dizer: “Obrigado meu Deus!... Obrigado meu Deus!...”
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Sei que o óbvio nos faz concluir que eu estava sob grande stress emocional e ouvi o que queria ter ouvido. Sei que o óbvio dirá que produzi em minha mente uma frase onde eu pudesse me refugiar e refrigerar a minha angústia...
.Sei...
.Mas e o outro lado do óbvio? Acredito que Deus se compadeceu do meu arrependimento, me deu outra chance. Fez coisas que só Deus pode fazer, me deixou ouvir o que o coração da minha mãe tinha para me dizer... Aquela que hoje me vê e não me enxerga, pergunta quem eu sou, não se lembra de ter me alimentado em seu ventre, me reconheceu, me ouviu e me respondeu. Bem... Ficamos horas na UPP, minha mãe foi medicada, as tropas inimigas recuaram e bons anjos montaram guarda em torno de sua cama. Ela se recuperou e a levamos de volta para o asilo onde se encontra até hoje. Posso não saber como são seus pensamentos com tão avançado estágio do Mal de Alzheimer, como ela se vê, que tipo de consciência lhe resta; mas eu sei que sentimento ela tem por mim guardado no fundo do seu coração, porque ela me disse. Ela ainda se encontra presa em seu corpo desgastado aguardando a liberação de Deus para cruzar o mesmo rio e encontrar o seu amor na outra margem, seus pais, seus irmãos... Esse será meu único consolo.
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Foi isso que aconteceu comigo no início deste ano, amigo, vou para por aqui, chorar dá muito sono...
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Aprendi levando muita porrada que mesmo estando sozinho, sem munição, ferido e cercado pelos índios, a trombeta da 7ª cavalaria vai soar e Deus virá para me resgatar das minhas aflições.
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Qual é o outro lado do óbvio?
MEU CAÇULA E EU |
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Sei que o óbvio nos faz concluir que eu estava sob grande stress emocional e ouvi o que queria ter ouvido. Sei que o óbvio dirá que produzi em minha mente uma frase onde eu pudesse me refugiar e refrigerar a minha angústia...
.Sei...
.Mas e o outro lado do óbvio? Acredito que Deus se compadeceu do meu arrependimento, me deu outra chance. Fez coisas que só Deus pode fazer, me deixou ouvir o que o coração da minha mãe tinha para me dizer... Aquela que hoje me vê e não me enxerga, pergunta quem eu sou, não se lembra de ter me alimentado em seu ventre, me reconheceu, me ouviu e me respondeu. Bem... Ficamos horas na UPP, minha mãe foi medicada, as tropas inimigas recuaram e bons anjos montaram guarda em torno de sua cama. Ela se recuperou e a levamos de volta para o asilo onde se encontra até hoje. Posso não saber como são seus pensamentos com tão avançado estágio do Mal de Alzheimer, como ela se vê, que tipo de consciência lhe resta; mas eu sei que sentimento ela tem por mim guardado no fundo do seu coração, porque ela me disse. Ela ainda se encontra presa em seu corpo desgastado aguardando a liberação de Deus para cruzar o mesmo rio e encontrar o seu amor na outra margem, seus pais, seus irmãos... Esse será meu único consolo.
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Foi isso que aconteceu comigo no início deste ano, amigo, vou para por aqui, chorar dá muito sono...
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Por isso eu sou cristão.
.É um plano de vida que nunca falha.
Ricardo Cacilias
Dedicado a menina da aula de química
4 comentários:
Mais uma vez obrigado por vc existir.
RC
Obrigado pelo carinho das suas palavras.
Foi o texto mais doído que escrevi.
Estou desde janeiro para fazê-lo, foram
dois dias escrevendo e reescrevendo...
tocou meu coração, e com certeza de muitas pessoas que, que já
passaram por isso. Tudo é um aprendizado e no fundo a única
sentimento que deixamos na vida é o amor. Obrigada :)
Concordo plenamente.
Obrigado por ter vindo.
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