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sexta-feira, 29 de setembro de 2023

O VELHO E O BALÃO


Apesar do meu inegável orgulho hétero, preciso confessar que sou apaixonado por alguns homens; infelizmente uns já morreram e a lembrança de suas vidas molham meus olhos e aquecem meu coração. Essa foto foi tirada numa praça de Porto Alegre em 2009, eu acho... Esse cara da foto é um desses homens que amo de paixão, meu filho Marcelo. Fui eu que escolhi o nome dele. Desde bem novo descobri que gostaria de ter sido batizado com o nome de Marcelo, mas, por uma deselegância imperdoável, meus pais nunca me perguntaram que nome eu queria ter. Então pensei: um dia, quando tiver um filho, seu nome será Marcelo. Tudo bem, eu também não perguntei a ele que nome gostaria de ter; enfim, agora está feito! Temos nossos filhos, escolhemos seus nomes, mas não governamos suas vidas. Marcelo, assim como seu irmão Felipe, tiveram a ousadia de serem mais altos do que eu, mais bonitos, mais inteligentes, mais especiais; acho que a vida não é muito justa... Essa foto foi a primeira self que fiz, naqueles dias ainda não se chamava assim; o telefone tinha uma tela minúscula e era ruim para visualizar a imagem. Então estiquei o meu braço o máximo que pude até ficar com o celular na pontinha dos dedos; minha mão tremia e a imagem não enquadrava bem. Então, Marcelo, tirou o telefone da minha mão e disse que seu braço era mais comprido. Nossa, que falta de respeito! E a foto foi batida com os braços compridos de Marcelo. Quando olhei a imagem, senti algo estranho dentro de mim. Imagino que seja a mesma sensação de quem solta um balão de papel: Você planeja os detalhes, compra o papel fino na papelaria, desenha, corta, cola, faz o bocal com arame, prende a bucha, cria expectativas, arranja um fósforo, risca e acende o balão. Seus olhos são iluminados pela luz que ele emite. Então acontece, por alguns mínimos instantes, você hesita em abrir a mão e deixa-lo partir, depois de tanto trabalho para fazê-lo... Nessa hora você se lembra porque fez o balão, para solta-lo no ar, alçar voo e se afastar. Que é uma doação sua para criar um ponto de luz no céu, apontar e dizer: Fui eu que fiz! Foi o que eu senti naquele momento da foto, meu “balão” não me pertencia mais, já estava voando. Chorei por dentro... coisas de velho. Deus foi bom comigo, me deu filhos, me eternizou, me fez melhor através da carne da minha carne. Hoje Marcelo tem seus próprios balões para cuidar, de montá-los com todo o cuidado e muito amor. Terá o seu momento de hesitar em abrir a mão e deixá-los ir, mas os balões nascem para voar...  

Te amo, meu filho.