Estava assustado. Quando vim para este lugar minhas
referencias estavam ausentes, não havia nada além de indiferença. A primeira
noite foi a pior, os sons que a noite produz, indefinidos e distantes, eram
assustadores. Parecia que o mundo lá fora cochichava a meu respeito. A única coisa que brilhava no escuro eram meus olhos. Cada vez que acordava me perguntava: “Onde estou?” E meu desanimo respondia: “Ainda estamos aqui!...” Deixei as coisas largadas, provisórias, espalhadas, amontoadas. Prato com resto de comida próxima a cama, gavetas reviradas, caixas por esvaziar, sapatos empilhados, um mundo em suspensão. Eu tinha medo, medo de que se eu organizasse esse lugar, poderia parecer que estava aceitando estar aqui, poderia sugerir ao destino de que eu aceitava sua ideia louca de me trazer para cá; que cada gesto de ordenar e arrumar eram
pregos a mais nesta maldita porta. Cansei de esperar pelo resgate que não viria, conclui que estava por mim mesmo e resolvi reagir diferente. Comecei a arrumar este lugar, a limpar, a deixar com um cheiro de esperança. Passei a exercitar o meu corpo, iria precisar dele forte e sadio. Passei a meditar e a dar ouvidos aos segredos do meu íntimo. Passei a rezar mais e a envolver Deus no meu plano de fuga. Passei a acreditar que esta prisão é provisória e que sua existência se fortalece enquanto não aceito ocupa-la no meu entendimento. Que na verdade eu sou a prisão e não as paredes que me retem. Abraçando este espaço, entendo seus contornos,
aprendendo com seu significado, a porta se destrancará pelo poder da minha superação e sairei pela porta da frente como um homem livre. Esse é o plano B e o único que tenho.
Esse é meu plano de fuga.
Ricardo Cacilias
17-09-2012