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terça-feira, 6 de dezembro de 2011

O CARA!!!


Boa noite amigo. Agora o relógio do meu computador marca 23:37min. Depois de um longo dia de trabalho achei que iria chegar em casa, afrouxar o coração, fumar meu cachimbo, tomar aquela vodca polaca com gelo grudado no gargalo, ouvir umas baladas dos anos 70, talvez falar das coisas que tenho saudade, talvez chorar a saudade dessas coisas, largar meu corpo sobre a cama, relaxado, tendo poupado R$ 200,00 de consulta com um analista próximo de casa... Porra nenhuma!!! O universo me pertence depois que os filhos dormem... Meu filho mais novo está em crise... Caralho!!!! Ele não sabe o que é uma pensão alimentícia para falar de crise!!... Perdoe-me o palavreado. Estou cansado!... As pernas vão, a mente grita: vai, vai! O peito se enche de ar. Os braços erguem as mãos que apertam os botões... Mas não há sabor nesse prato frio que se come da mesma forma todos os dias... Tem uma música do Djavan que na letra fala: "Sabe lá o que é não ter e ter que ter pra dar... Sabe lá..." Estou sem carinho de mulher, sem sexo, estou só... As "primas" que me perdoem, mas o que me distingue dos animais é o amor... "Quer falar de “crise”???" Perguntei a ele: “Está com problemas na escola, está fazendo terapia para entender seus problemas??? Você acha que é o único que tem problemas??? Você acha que amo todos com quem trabalho? Eu saberia dar uma função melhor aos meus dentes do que sorrir para quem não suporto... Eu saberia fazer algo melhor do que ter que ir todos os dias ao trabalho enquanto o mundo está lá fora me chamando para conhecê-lo... Quando sei que não tenho vida suficiente para conhecer um terço do que gostaria, ainda que saísse agora, correndo... Se paro agora... amanhã a panela estará mais vazia do que suas frustrações... Frustrações!?!?!... Quer falar de frustrações??... Como todos os dias frustrações no café da manhã..." Ele ficou me olhando com a boca aberta... Merda! Não é a melhor opção desabafar com um filho, ainda mais se ele só tiver 18 anos. Respirei fundo, veio um silêncio sobre nós, olhei para meus sapatos que precisam de graxa, e disse a ele: "Vai tomar um banho quente, filho... Vou fazer o jantar!" Ele se virou calado e foi pro banheiro... Fiz macarrão com bife acebolado. Fatiei a cebola em rodelas finas, derreti duas colheres de sopa de manteiga, joguei a cebola, inclinei a frigideira e fui mexendo, uma pitada de orégano, três gotas de alho líquido, uma raladinha de nós moscada... estava irritado comigo mesmo por ter falado mais como um cara do que como pai. Quem sou afinal? Pai? Cara? Homem? Sou a mesma pessoa que fui a minha vida inteira, mas aprendi a conviver com meus arreios; com minhas limitações e a conviver com aqueles sonhos que nunca terão as cores da realidade... Nos sonhos as cores são borradas!!! Jantamos em silêncio um de frente para o outro e ele comeu tudo, depois repetiu de novo... Minha comida devia estar boa! A coisa é assim: ou você não tem filhos e passa a sua vida pensando como seria tê-los ou você tem filhos e passa a sua vida pensando o que faria se não os tivesse... No final do nosso jantar disse a ele: "Você só tem essa semana para terminar a escola, faz as aulas de recuperação dessas matérias e depois é férias... As coisas nem sempre são tão boas que não se possa chorar ou tão tristes que não se possa sorrir. Os dias vem e vão, mas procure não perder o foco do que é importante e não deixe de esticar o pescoço para descobrir coisas novas lá na frente..." As vezes acho que ele me escuta falando grego, e nem sempre estou com "saco" para me traduzir... 
Não tenho lido jornais, mas lembro que antigamente havia uma seção de Desaparecidos, Sumidos, Abduzidos... Sei lá! Será mesmo que todos foram levados por alienígenas? Será mesmo que todos foram raptados para que seus órgãos fossem retirados para o mercado negro internacional? Será mesmo que todos morreram e foram enterrados como indigentes??? Será mesmo que o extraordinário os absorveu...??? Será mesmo??? Ou seus pés cansados levaram seus corpos cansados para o nordeste começar vida nova a beira de um mar azul da cor do céu??? Para ter suas orelhas aquecidas por um par de seios de uma linda cabocla, de pouca cultura, fascinada pelo seu palavreado cortes e educado??? Onde habita a coragem? Nos que se amochilam de esperança e vão ou nos que se amordaçam e ficam nas torres de arma em punho enfrentando os inimigos até a secura de suas peles??? Acabei naquela noite fumando mecanicamente meu cachimbo, tomei minha vodca pura, não ouvi as baladas dos anos 70, não chorei de saudade e vou para cama preocupado de acordar amanhã cedo, pois tenho uma pilha de sorrisos que não quero dar para distrubuir por ai...  e minhas mãos fedem a cebola... Hein? O que você disse? Quem? O Felipe? Está dormindo de barriga cheia na sala... Estava assistindo um filme... Vou deixá-lo ali mesmo e jogar um cobertor por cima...

Até a próxima... Se eu não for “abduzido” antes... 


Ricardo Cacilias