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terça-feira, 30 de agosto de 2011

AS DEZ COISAS...

Oi. Cá estamos de novo... 
FRANK SINATRA
Estou me acostumando com suas visitas a este velho olhos azuis; não tão bonitos quantos os de dona Malvina ou do Frank Sinatra... Mas agradecidos por sua insistência...
Sonhos são sonhos, pesadelos são pesadelos e amnésia é outra coisa...
Gostaria de te contar sobre alguns sonhos que tenho guardado como diamantes numa sacolinha, no fundo da segunda gaveta do meu coração. Alguns sonhos cultivo a tanto tempo que estão com as folhas meio amareladas, precisando de uma boa chuva de verão... Tenho sonhos que são apenas meus e outros que foram sonhados juntos com a ex-senhora B; sonhos que receberam nomes como damos aos filhos quando nascem, sonhos que viraram planos eternos adiados por falta de tempo ou dinheiro ou falta de tesão para realizá-los. Quando o fim de semana chega estou tão cansado, que me falta aquela explosão de pegar a vida pelos ombros e dar uma forte sacudidela e dizer: "Epa! Qual é?... Tá maluca? Só cobra, cobra... e EU? Porra!!!" Existem na internet alguns sites com o título: "100 Coisas Para se fazer Antes de Morrer..." Como sou um suburbano caipira, tenho a minha própria lista, mas ela só tem 10 Coisas Que Desejo Fazer antes de Morrer... É claro que existem variações que se desdobram dentro de cada item. Os desdobramentos acabam se somando a outros e como numa reação em cadeia, realizando a maioria dessas 10 coisas, acabarei por fim em acreditar que não vim a esse mundo apenas para trabalhar, pagar conta, comer, fazer coco e dormir... "Ai, ele falou em coco, que bárbaro!!..." Mas todos nós não fazemos coco todo dia? Se não acontece isso contigo, é melhor procurar ajuda... Voltando a minha lista, gostaria que você, meu leitor, pensasse na sua própria lista. Tenha ao menos um esboço do que você realmente gostaria de fazer se não tivesse preso as teias da rotina; tenha a liberdade de pensar, de ousar, de se presentear, tenha a liberdade de se amar, de se respeitar e acreditar que você pode - "Yes We Can!!" Onde já ouvi isso antes??? Apesar de você ser um amigo de texto, ingrato, não me manda uma carta, um e-mail, um comentário... Vou abrir a segunda gaveta do meu coração e te dizer quais são as 10 coisas que quero fazer antes de sair de cena...

NÚMERO UM: Voltar a pintar... 
(Já pintei algumas telas, menos do que estavam prontas aqui dentro para virar tinta. A maioria delas seguiu rumo próprio... Assim como escrever, pintar para mim é uma deliciosa forma de expressão, um pensamento feito de tinta, uma emoção impressa...)
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NÚMERO DOIS: Aprender a tocar um instrumento...
(Adoraria tocar um piano, um violão, um sax, uma guitarra. Eu tenho um violão encostado na parede há 29 anos... Olha, eu tenho um filho músico, o númeno dois, Marcelo Cacilias, é de emocionar a sua capacidade de mistura os sonhos e os ritmos ao ponto de fazerem sentido ao próprio espírito... te amo filho...)

NÚMERO TRÊS: Ter um cão Labrador...
(Foram 52 anos querendo um cão de verdade, amigão, sei lá... nunca tive um cão para dizer que era só meu... Eu gosto do labrador porque é grande, tem pelo curto e cara de inteligente.) 

NÚMERO QUATRO: 
Aprender uma língua estrangeira... 
(Todo mundo estudou inglês na escola...e nós, a maioria, na frente de um americano, inglês, alemão, japonês, não soltamos um verbo em inglês... É muito deprimente estar na internet e sentir-se um analfabeto. Gostaria de dar um basta nisso...)



NÚMERO CINCO: Ser um doador de sangue...
(É com sentimento de vergonha que digo que nunca doei sangue... Durante anos escutei apelos feitos por instituições de saúde pedindo que doe sangue "um ato de amor". Nunca fui. É muito fácil estar dentro de uma igreja e dizer que ama o seu "próximo"; muitas vezes dizer amar ao próximo é apenas uma frase repetida vulgarmente, como "bom dia"... As vezes amamos a determinados "próximos" como o indivíduo que está do seu lado sentado no banco da igreja, os membros da sua família... Doar uma parte que te pertence sem troca de dinheiro, sem conhecer a quem será beneficiado, fazer com que a frase "ame ao seu próximo" se materialize, fará de mim uma pessoa melhor e mais próxima de Deus.)  

NÚMERO SEIS: Ensinar um analfabeto a ler...
Eu não ensinei a nenhum dos meus 4 filhos a ler. Isso ficou a cargo da escola, no seu tempo certo e na sequencia corriqueira da vida. Mas um adulto que não sabe ler, é uma pessoa que enxerga a  sua própria cegueira... Quero ser parteiro de uma vida desperdiçada, quero saborear o momento que algumas letras fizerem sentido para alguém pelo meu intermédio. Além de achar que isso será bom para um ser humano, além de achar que vou contar uns pontinhos com Deus, além de estar exercendo meu papel como cidadão brasileiro, isso vai me dar um êxtase de satisfação e vou me sentir uma pessoa melhor por isso. É uma forma elegante de entrar na vida de alguém e jamais ser esquecido.)
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NÚMERO SETE: Fazer mais amigos...
(Tenho muito poucos amigos, talvez eu tenha mais do que realmente percebo. Quero dar mais crédito a sensação de que aquela pessoa gosta de mim e daí germinar uma boa amizade. Quero visualizar melhor meus amigos, quero me reunir com eles em intervalos menores, com calma saborear suas presenças, crescer com seus ensinamentos, ouvir suas estórias. Eu tenho um amigo de adolescência chamado Júlio, não o vejo a muitos e muitos anos, mas nunca perdi a sensação de que ele é um grande amigo. Preciso ligar para ele... 
  
NÚMERO OITO: Viajar para a Europa e conhecer as cidades que vejo nos filmes. Portugal, Itália, Grécia, Alemanha, Espanha...
(Preciso dizer mais alguma coisa? Viajar, conhecer lugares, pessoas, seus valores, sua comida, seus ícones... Vai ser muito bom! Acima de ser brasileiro e sul-americano, eu sou um cidadão do mundo; preciso conhecer melhor esse planeta, seus mares, suas terras...)


NÚMERO NOVE: Recompor a minha família...
(A minha lista não é sequencial, mas tenho alguns itens mais importantes do que outros. Eu não sou auto-suficiente, eu não me basto, não tenho a capacidade de interpretar sozinho os perigos que adivinharão, não consigo me divertir sozinho, não consigo sonhar sozinho. O conceito de família é capenga e cheio de falhas, mas não inventaram nada nada melhor do que isso.)

NÚMERO DEZ: Transar com a Sharon Stone...
(Sharon, hello, how are you??? Será que ela gosta de latinos???... Ela é linda, talentosa e inteligente. Será que vai dar??? Call me, my love...
Esclarecendo: Primeiro eu transo com a Sharon, depois eu recomponho a minha família. Homem não vale nada...)
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De todos os sonhos justos, abstratos ou infantis... o que mais desejo que seja realizado é a restituição do corpo partido do meu casamento, sem a qual nenhum outro sonho será glorificado, nenhuma vida poderá ser chamada de verdadeira. Não tenho vergonha de dizer que amo. E por esse amor vou procurar ser alguém melhor. Chega, você deve estar com sono de tanto blá, blá, blá... Até amanhã.
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Ricardo Cacilias

A ROSA DE SARON

Veio hoje de novo? 
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Você está realmente ai?
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Ainda não me acostumei com a magia de falar tão intima e abertamente com uma pessoa que não conheço. Na minha adolescência, computador era chamado de “Cérebro Eletrônico”. Quando escrevíamos um texto na máquina de escrever e errava, não havia editor de texto, tínhamos que ficar segurando uma fita com um pozinho branco e você batia de novo a letra errada entre o tipo da máquina e o papel, para que o pozinho fosse transferido para o papel e cobrisse a tinta da letra errada e depois você voltava e batia a letra certa.... Ficava uma cagada só, mas para o padrão da época era aceitável. Cansei só de lembrar... Sou ainda muito caipira para assimilar de maneira absoluta e abrangente essa ficção científica de estar num quartinho nos fundos do meu apartamento, que batizei de “O refúgio do Guerreiro”, escrevendo minhas bobagens e alguém, sei lá quem, e sei lá onde, também no seu próprio refúgio, acompanhando meus textos, no dia seguintes ou muitos dias depois de tê-los escrito.... Por isso pergunto se você está mesmo ai? Conforta-me acreditar que sim. Apesar de que, no fundo, sinto que falo apenas comigo mesmo... Já que somos amigos de textos, vou contar uma confidência: a senhora B não está morando mais comigo. Está há mais de duas semanas na casa da mãe dela. Tenho dito aqui e ali que ela viajou... Viajou porra nenhuma... Fez uma pequena maleta e levou, além de alguns pertences, essências tão saborosas quanto absolutas da minha vida, moldadas nas alegrias e frustrações geradas no dia-a-dia desses 25 anos de convivência... Cara está doendo mais do que pisada em unha encravada! Por isso peço desculpas para você, não estou sendo uma boa companhia de bate-papo... Um dia você acorda e o eixo do seu mundo rotacionou 180o, o que antes era teto agora é chão e vice-versa. Sejamos francos, todos os dias acordamos querendo que o equilíbrio das coisas que acreditamos e das coisas que conquistamos não se rompa, pois as instruções de como devemos proceder em caso de pane em pleno voo, não constam no nosso diário de bordo... Na verdade a nossa grande expectativa secreta é que as mudanças sejam apenas singelas, adocicadas, capengas, serenas, frágeis e que não nos deixe descobertos a pontos de termos que romper a nossa casca e brotar suco de nossos paradigmas. A rotina é confortável, tão maldita por nós, mas ela é muito confortável e previsível. Na maior parte do tempo estamos mais preocupados em tentar garantir aquele de sempre sobre a mesa, aquela prateleira meio cheia da geladeira, aquele mínimo necessário para sanar as dívidas dentro do prazo, aquela nossa convicção que doença só acontece na casa do vizinho... Aturamos o patrão, aturamos o gerente, aturamos os clientes, aturamos o nosso trabalho sabendo que existem bilhões de coisas maravilhosas para se ver e conhecer neste mundo, mas que para nós, cada vez mais, só existem nas telas do cinema ou nas revistas... Acabamos por nos contentar em visitar Caxambu uma vez por ano ou qualquer outra coisa por ai... Exibimos aos colegas do trabalho as mesmas fotos das mesmas férias que tem se repetido todos esses anos... E ainda ficamos felizes de poder ao menos realizar essa extravagância... E acima de tudo, aquela nossa estúpida convicção de que existe um deus moldado a nossa imagem e conveniência, interpretado conforme nossas necessidades e frustrações; não o Deus real, não o verdadeiro, o magnânimo, o perfeito, a Rosa de Saron, mas aquele deus que secretamente achamos ser meio cego, que não vê com clareza nossos vacilos, que tem péssima memória sobre nossas mentiras, sobre os deslizes que cometemos... deus superbonder comprado no mercado para restaurar as pontas quebradas que vão surgindo... 

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Será?
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Eu avisei, hoje não estou uma boa companhia para bate-papo. Sozinho neste apartamento grande e dormindo numa cama vazia, me falta vontade de ser falso contigo... Se a alma fosse constituída de células, sinto que cada uma delas estaria sendo espremida como aquelas espinhas que tínhamos quando achávamos que o Mundo nos pertencia...
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Já passa da meia noite. 
Até amanhã, ou como dizem nas viagens de avião do corujão: Bom dia.
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Ricardo Cacilias