Apesar do meu inegável orgulho hétero, preciso
confessar que sou apaixonado por alguns homens; infelizmente uns já morreram
e a lembrança de suas vidas molham meus olhos e aquecem meu coração. Essa foto foi tirada numa praça de Porto Alegre em 2009,
eu acho... Esse cara da foto é um desses homens que amo de
paixão, meu filho Marcelo. Fui eu que escolhi o nome dele. Desde bem novo descobri
que gostaria de ter sido batizado com o nome de Marcelo, mas, por uma
deselegância imperdoável, meus pais nunca me perguntaram que nome eu queria ter.
Então pensei: um dia, quando tiver um filho, seu nome será Marcelo. Tudo bem,
eu também não perguntei a ele que nome gostaria de ter; enfim, agora está feito! Temos
nossos filhos, escolhemos seus nomes, mas não governamos suas vidas. Marcelo, assim
como seu irmão Felipe, tiveram a ousadia de serem mais altos do que eu, mais
bonitos, mais inteligentes, mais especiais; acho que a vida não é muito justa... Essa
foto foi a primeira self que fiz, naqueles dias ainda não se chamava assim; o
telefone tinha uma tela minúscula e era ruim para visualizar a imagem. Então
estiquei o meu braço o máximo que pude até ficar com o celular na pontinha dos
dedos; minha mão tremia e a imagem não enquadrava bem. Então, Marcelo, tirou o
telefone da minha mão e disse que seu braço era mais comprido. Nossa, que
falta de respeito! E a foto foi batida com os braços compridos de Marcelo. Quando
olhei a imagem, senti algo estranho dentro de mim. Imagino
que seja a mesma sensação de quem solta um balão de papel: Você planeja os
detalhes, compra o papel fino na papelaria, desenha, corta, cola, faz o bocal
com arame, prende a bucha, cria expectativas, arranja um fósforo, risca e
acende o balão. Seus olhos são iluminados pela luz que ele emite. Então
acontece, por alguns mínimos instantes, você hesita em abrir a mão e deixa-lo
partir, depois de tanto trabalho para fazê-lo... Nessa hora você se lembra porque fez o
balão, para solta-lo no ar, alçar voo e se afastar. Que é uma doação sua para criar um ponto de luz no céu, apontar e dizer: Fui eu que fiz! Foi o que eu senti
naquele momento da foto, meu “balão” não me pertencia mais, já estava voando. Chorei
por dentro... coisas de velho. Deus foi bom comigo, me deu filhos, me
eternizou, me fez melhor através da carne da minha carne. Hoje Marcelo tem seus
próprios balões para cuidar, de montá-los com todo o cuidado e muito amor. Terá
o seu momento de hesitar em abrir a mão e deixá-los ir, mas os balões nascem para
voar...
Te amo, meu filho.
Um comentário:
Excelente reflexão!
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