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sábado, 3 de dezembro de 2011

20 ANOS COM VOCÊ...

Estou feliz, hoje é dia dois de dezembro de 2011 e minha filha Thaís está fazendo 20 anos. Quando coloquei aquela velha mochila nas costas e disse para meus pais que iria ganhar o Mundo, não pensei que viria até aqui rolando ladeira abaixo, fingindo estar sobre o controle de tudo, fazendo caras e caretas de que eu me ordenava, enquanto enchia a boca de gramas e cascalhos... Nós escrevemos o nosso destino, mas é Deus quem autoriza o roteiro. Entre as idas e vindas da minha vida, consegui esticar meus braços e colhi 4 estrelas do céu; a cada estrela dei um nome: Renata, Marcelo, Thaís e Felipe. Fico pensando se depois de tantas escoriações, se depois de tantas mochilas aquecerem minhas costas, como seriam minhas noites sem as luzes dessas estrelas? Quando a gente cresce a roupa vai apertando, não dá mais para vesti-la, mas sinto saudade de ser filho, sinto saudade de meus pais, sinto saudade de suas vozes me chamando, sinto saudade de como era a minha vida antes de resolver ser abusado e querer me vestir de adulto. Hoje, no aniversário de 20 anos da Thaís, lembrei dos meus pais e chorei. E
Thaís
pensava ser o senhor da minha vida, mas reconheço hoje que o senhor da minha vida é o Deus que me habita. Uma vez assisti a um filme com uma cena de atropelamento, em algum momento da vida daquela pessoa, durante uma caminhada, ela esbarrou-se com a morte vigilante. Logo após o acidente, o filme para e retrocede 10 minutos e, passo a passo, são mostradas diversas situações que teriam impedido aquele atropelamento: ao chegar no elevador a pessoa o encontra repleto, poderia ter aguardado o seguinte mais vazio, ao invés de ter se espremido; ao chegar na portaria vinha chegando uma senhora com bolsas, ao invés de segurar a porta e deixar a senhora passar, a pessoa apressa uns passos e sai antes da senhora chegar; já na rua alguém pede uma informação e ao invés de parar, de ser solidário, apenas emite uma resposta curta "não sei onde fica..." e se afasta apressado. Qualquer um desses momentos faria a pessoa se atrasar um minuto no encontro com a morte, teria a visão do carro que a mataria, passaria em sua frente e se afastaria... Um desprezível momento e toda a sua vida muda. Tenho procurado viver intensamente essas desprezíveis frações de segundos, porque a vida é preciosa e não pode ser refeita. Hoje acordei cedo e me lembrei do aniversário dela. Pensei: "O que vou fazer para que ela saiba que hoje é um dia especial para mim?" Eu nunca havia dado flores para  a
minha filha... era 
isso, então, que eu iria fazer! Flores não têm vida longa, mas às vezes vivem para sempre. Eu queria me sentir especial para dar aquelas flores; tomei um longo banho, coloquei uma camisa nova, usei meu tênis bonito da Mr Cat, coloquei meu perfume preferido em volta do pescoço e ajeitei meu cabelo, puxava uns fios pra lá e pra cá sobre a testa para dar um ar jovem e natural... Cara, como sou ridículo! Tem uma floricultura na Farme de Amoedo, em Ipanema, que vende umas rosas colombianas que se abrem lindas e duram mais tempo. Parece que o português cobra o valor das flores e as passagens do avião que as trouxe ao Brasil. Fui entrando e dizendo: Hoje é o aniversário da minha filha! Vim comprar flores!” Eu parecia meio abobado de alegria por estar fazendo o que estava fazendo. Fui atendido por uma vendedora, que me sugeriu: "Dê rosas rosa misturadas com essas rosas lilases." Nossa, pensei, eu nunca tinha visto uma rosa lilás, era lindíssima... 
"Gostei! Quero meia dúzia de cada..."  Sobre o balcão havia um cartão branco para escrever alguma coisa. Era um cartãozinhozinho, escrever o que quando se tem tanto para dizer? Fui criativo: "Feliz aniversário filha. Te amo. Papai." Peguei as flores, coloquei no meu colo, sentei na moto e fui para a casa da sua avó. Ao chegar, interfonei e pedi que ela descesse. Escondi as flores atrás de uma coluna de sustentação do prédio e esperei. Thaís chegou com seu sorriso na frente, lhe dei um longo abraço e um beijo: "Feliz aniversário, filha!" Ela sorriu. "Obrigada, pai!" Perguntei se teria “festa” mais tarde, ela disse que iria num bar com o Felipe, meu filho, primos e uns amigos. Meio sem saber o que dizer, disse qualquer coisa para dar continuidade à conversa: "Estou convidado? Posso ir?" Falei por falar... Ela disse rindo: "Naaão, pai! Não chamei nenhum velho, nem a mamãe vai..." Ai! Com essa, minha franja ficou desarrumada! Ela está linda com aqueles zoião que eu tão bem desenhei.Lembrei que tinha que trabalhar, puxei as flores de trás da coluna e disse: 


"São pra você..." 

As flores e a passagem de avião ficaram baratas, meu presente foi assistir a sua expressão de surpresa, ver refletidos em seus olhos as rosas que eu segurava em minhas mãos. Thaís abraçou as flores como quem abraça uma criança e o som do papel laminado se dobrando parecia fogos de uma noite estrelada de São João. Eu me senti o maior "cara" do mundo! Nos beijamos, subi na moto e continuei rolando ladeira abaixo, gastando a gasolina pelos caminhos da vida... 
Essa noite resolvi festejar seu aniversário, escrevendo esse texto para dizer como ela é importante pra minha vida... 


Feliz Aniversário, filha.
                 02-12-2011