Boa noite amigo. Gostaria de saber como meus amigos canadenses, americanos, alemães, russos... vão traduzir a palavra "faniquito" no seu idioma? Coloquei aqui ao lado o último relatório que recebi do meu blog sobre os acessos que recebo. Fico muito agradecido por estarem me visitando. Neste instante está rolando, finalmente, a "social" do Felipe comemorando seus 18 anos com a churma!!! Estou escondido aqui no meu bunker enquanto eles escutam música alta, falam mais alto ainda, bebem Smirnoff Ice e coca-cola... Deu trabalho realizar esta festa, encomendar os salgados, contratar alguém para uma limpeza geral, arrastar os móveis... Espero que ele esteja gostando! Estou sentindo formigamento no meu corpo, lá vou eu de novo viajar no tempo... Nos anos 80 começou uma enxurrada de publicações em revistas como "Nosso Bebe", "Criança", "Pais e Filhos"... sobre o papel do pai e sua importante presença no momento do nascimento do seu filho... Era um tempo antes dos computadores pessoais virarem eletrodomésticos, uma época em que as mulheres ainda não eram as donas do mundo e os homens ainda não eram dinossauros em extinção! As leituras destes textos me convenceram de que realmente faz todo o sentido do mundo o pai e mãe estarem juntos para dar as boas vindas ao novo futuro. Este conceito é racional, é humano... O papai gorila não fica do lado da mamãe gorila para ver o gorilazinho nascer... Mas não aconteceu como eu esperava... Quando a minha filha número 1 nasceu, a Renata, foi num hospital municipal de Novo Hamburgo. O obstetra era particular, fomos muito bem atendidos e tudo correu muito bem. Antes do parto falei com o médico que tinha lido isso e aquilo e que gostaria de estar junto e blá, blá, blá... Não rolou... O médico não tinha lido esse artigo e o hospital, por ser da prefeitura não iria permitir; e a Renata nasceu sem a minha presença ocular da história... Em 1981 o Brasil ainda era subdesenvolvido maternalmente... Cinco anos depois, em 1986, eu já estava de volta ao Rio e a Tere estava para dar a luz ao Marcelo. Eu falei para a obstetra que queria estar junto porque era um momento especial, a mulher está mais fragilizada, blá, blá, blá... Não rolou... A mulher parecia uma açougueira, cortava e dizia "outro... outro..." Foda-se para ela, médica mercenária...fdp!!! Desculpe-me, mas esperei 25 anos para falar isso. Mais uma vez fiquei do lado de fora da porta... Quando a Thaís nasceu em 1992 eu estava passando por uma fase péssima de grana, tinha muita água dentro do barco... Não tínhamos médico particular e a Thaís nasceu na Maternidade Escola de Laranjeiras... Lembro que depois a ex-senhora B me contou que no quarto coletivo onde ficou havia uma adolescente sozinha com um barrigão enorme. Ela chorava muito, pois estava com medo, insegura e sozinha. Sei lá o que estava acontecendo em sua vida. Mas a presença de um namorado ou seu marido faria muito diferença para ela. Uma auxiliar de enfermagem que deveria pesar uns 180 kilos, parecendo um sargento do exército albanês com bigodinho e tudo, gritou com a menina: Chega de faniquito!!! Se entrou vai ter que sair... Waaalll. Tirando esse sargento, graças a Deus fomos muito bem atendidos e tudo deu certo, menos com a minha presença, novamente, na hora do parto. Nem ouviram as minhas suplicas para estar junto da minha mulher e ver o parto da minha filha... Definitivamente os obstetras deste país não leem as publicações destinadas aos pais sobre filhos... Pensando bem, acho que eles temem que o pai acabe dando mais trabalho do que o parto em si. Pai chorando, filmando... Eu já tinha desistido de assistir ao parto... Os anos 80 do século 20 se foram, mas os anos 90 ainda estavam no início! Felipe estava agitado dentro da mãe, chutando fígado, pâncreas, seu estômago... Ele queria sair... Eu sempre fui em quase todas as consultas de obstetras de cada filho que tive. Na última consulta ao médico antes do dia marcado para o nascimento do Felipe, já na porta nos despedindo, o doutor se vira para mim e pergunta: "Pai, quer assistir ao parto??" Devo ter feito uma cara de bocó quando perguntei: "Eeeuuu doutorr????" "É bom o pai estar presente nesta hora, dará segurança a sua esposa..." Eu não sabia se mandava ele a merda ou dava um abraço. "Claro que sim, doutor, eu sempre quis!!!" Enfim, Deus sabe o que faz... Posso te garantir que os primeiros olhos que se colocaram sobre o Felipe foram os meus... No grande dia me deram uma roupa ridícula de listra rosa, gorro de algodão vagabundo na cabeça e um saquinho de pano nos pés... Acho que são feitos para humilhar mesmo. Já o médico usava uma roupa num tom verde tipo "momento de operação", chiquérrimo... Colocaram uma espécie de rede de ping-pong gigante entre a mãe e a sua barriga... Ela estava parcialmente sedada, mas eu estava, finalmente, presenciando o nascimento da minha eternidade!!! Quando o doutor "infelizmente não lembro o seu nome" encostou o bisturi na barriga de minha jovem esposa, preferi não olhar... Já pensou o alto falante do hospital solicitar a presença de um apoio médico, porque um pai que estava assistindo ao parto desmaiou?? Eu tinha uma máquina fotográfica antiga Yashica pentamatic de filme que pertenceu ao meu pai, tirei algumas fotos. Derrepentemente aparece o cabelo negro do Felipe, é uma sensação estranha ver aquele Alien saindo de dentro de um ser humano. O médico foi puxando devagar até sair o primeiro ombro, depois o segundo. Foi um momento mágico, estava se cumprindo na minha frente a vontade de Deus de que crescêssemos e nos multiplicássemos. Até aí eu não sabia qual seria o sexo dele, eu nunca quis saber antes, era como se alguém estivesse contando o final do filme, estraga a emoção. Quando o corpinho dele saiu por inteiro, fiquei emocionado, porque enquanto ele estava dentro da mãe, era como se ele existisse apenas para ela. Ela o sentia se mexer, ela o tinha o tempo todo junto do seu corpo, passeava com ele, tomava banho com ele, poderiam até conversar... Para mim era apenas uma barriga grande... mas quando ele surgiu, quando pude vê-lo, olhar seus contornos, sua cara enrugada... Ele passou a ser real para mim. Meu filho. Um mundo independente, importante e único como os outros três são. Um filho é um compromisso diário com a vida, uma hora marcada, um encontro sem fim, um casamento sem a possibilidade de separação. Quando um filho nasce o mundo por inteiro se modifica com esse nascimento. E hoje aquele Alien, o quarto passageiro, está comemorando lá na sala, seus 18 anos e o babão do pai esta no computador escrevendo esse blog... Mais uma vez quero agradecer profundamente e sensibilizado a estas mulheres maravilhas que me fizeram pai e uma pessoa muito melhor do que eu era antes de conhece-las! Que saco estou chorando...
Boa Noite
Ricardo
Boa Noite
Ricardo