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quinta-feira, 22 de março de 2012

1987


Eu atravessa distraído uma rua  na internet, e passei por um cartas onde se lia YouTube. Como estava fazendo hora, entrei sem bater. Dei um esbarrão num clip do RPM de 1987... Levei um susto! Eu tinha me esquecido que havia morado lá. Estou vivendo tão intensamente cada minuto de 2012, que ter dado uma olhada sem querer por essa janela embaçada, me trouxe muitas lembranças! Não é exatamente por causa de 1987, é aquela época... Lembrei de pessoas queridas que estavam vivas neste tempo, eu podia pegar o telefone e ligar e ouvir suas vozes do outro lado da linha quando quisesse. Muitas vezes poderia ter feito, e muitas vezes simplesmente não fiz. Eu sofria nessa época de "longevidade", maldita mania de pensar que iria viver 500 anos... Me deu uma vontade danada de ligar de novo e ouvir suas vozes, ainda tenho seus telefones em minha cabeça, elas é que não estão mais lá para atender... A música foi tocando, depois ouvi outra e outra... Apesar de estar num quarto pequeno, sem convite minhas lembranças foram se aproximando. Enquanto a música tocava, eles foram chegando um a um para uma festa não planejada. Todos da minha saudade invadiram meu quarto e foram se espalhando em minha volta. Vestiam suas roupas de 1987, conservavam seus olhos e seus sorrisos como eram naqueles tempos, tinham estampados em seus rostos o brilho da certeza de que tudo daria certo... Cada um seria o dono do mundo, cada um... Eu ali sentado, a música tocando, tanta gente feliz em minha volta, e eu era o único de cabelos grisalhos... O único que conhecia o futuro deles... Deixei pirar geral, me levantei da cadeira e fui cumprimentá- los, abracei um, acenei para o outro, puxei assunto, conversei, ri alto, dancei com as meninas, zoaram as minhas roupas e eu as deles. Perguntar para as lembranças se lembravam de outras lembranças é uma licença poética dos loucos que me permiti sem constrangimentos. Me empolguei além da conta e acabei mostrando as fotos dos meus filhos; foi uma surpresa geral... A expressão de susto em seus rostos me fez lembrar como somos reféns do tempo... As músicas foram acabando e eles foram saindo, tive vontade de ir junto, de passar pela mesma parede em que se despediam, mas não deu... nem meu dedinho entrou por ela. Havia voltada para 2012. Me vi sozinho em pé no meio do quarto, com a carteira aberta nas mãos e meus filhos sorrindo nas fotos. Voltei a me sentar com os berros do silêncio em meus ouvidos...

Olhei para o computador e
pensei em escrever
e contar o que havia acontecido comigo...
e é o que estou terminando de fazer agora. Como sou idiota... 
Um saudoso idiota! 


Ricardo Cacilias. 
dedicado as minhas saudades