Quando a noite chega e os ecos que o dia produz vão se desprendendo de minha alma virando página virada, outros sons, que moram no "santo dos santos" do meu ser, me chamam a lembrar de casa; da velha casa de muitos anos, da casa dos meus pais. Hoje fui levado as vitrines das lembranças ao entrar num supermercado daqui de Macaé e, passando por uma das mil prateleiras de um dos seus mil corredores, vi um bolo com uma etiqueta escrito, Bolo de Abacaxi. Parecia uma senha, Bolo de Abacaxi. Ao ler essa frase me senti transportado para um tempo em que eu era apenas uma criança amada. Que saudade do cheiro de bolo de abacaxi que perfumavam os sábados a tarde da minha casa. Minha mãe fazia bolo com pedaços de abacaxi caramelizados, simplesmente, uma explosão de sabor numa fatia de bolo. Comprei o bolo na esperança de encontrar, em suas fatias, minha infância, minha mãe, minha casa, meus dias de criança... Mal cheguei em casa, sei lá onde larguei minha mochila, sem lá em que canto a chave da moto caiu, atravessei paredes e cheguei na cozinha com a faca em punho debruçado sobre o tal Bolo de Abacaxi. Cortei uma fatia como um médico cortando o peito de alguém para chegar ao coração. Abri minha boca e provei o bolo. Acordei como num susto. Não tinha pedaços de abacaxi caramelizados, nem minha infância, nem minha mãe, nem minha casa, nem meus dias de criança...
Só havia saudade...
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07-06-2016 |