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momento que se renova

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γνωθι σεαυτόν
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sexta-feira, 16 de setembro de 2011

O MALUCO BELEZA DE CADA DIA...

Há uns meses atrás eu estava indo almoçar na Casa Clipper na Rua Carlos Goes, que fica em frente ao cinema Leblon. Eles tem um feijãozinho delicioso e eu estava com muita
fome... Andando apressado e derramando pensamentos pelo caminho, me deparei com uma cena inesperada: Vi um mendigo sentado num banco conversando calorosamente com um ser invisível, ao menos era invisível para mim... Mais à frente, num outro banco que fica virado para o cinema, do outro lado da rua do boteco para onde eu
me dirigia, coincidentemente havia outro mendigo, também conversando com seu “amigo” invisível. Ter visto estas duas cenas acontecerem em seguida ao meu percurso, conseguiram me tirar do afogamento que meus pensamentos me submetiam; na verdade cheguei a sorrir imaginando a seguinte situação. Eu me aproximaria do primeiro mendigo e o convidaria a se sentar no outro banco, 
onde havia o segundo mendigo, apresentaria uns aos outros deixando os quatro no maior papo... Cheguei a me divertir com esse pensamento... Mas
isso tudo é muito triste; alguém perdeu o ônibus da vida e ficou para trás! Alguém foi rolando degrau a baixo, sem tesão de retomar a si mesmo e retornar aos desafios do dia-a-dia. Alguém cedeu à contínua pressão e cozimento que o mundo nos submete, e se deixou ficar ao relento, sob a chuva, a maresia, ao vento, ao tempo... Sem Facebook, sem internet, sem identidade, sem lar, sem cama, sem lençol enxaguado com amaciante, sem uma privada limpa, sem a água do chuveiro... Como estou passando por momentos obtusos, tenho outras lentes para ler a situação que antes me fez achar graça... A dor nos costura numa dimensão mais humana, sacode nossas caspas e nossos pensamentos com elas. A rotina é um embaçador do vidro do carro, acabamos dirigindo na chuva com as mãos agarradas ao volante e ficamos só olhando para frente, nos fazendo desprezar as imagens do espelho retrovisor... Como diante da velocidade das coisas, podemos nos redescobrir? Com que 
mãos obstinadamente ocupadas, teremos para apalpar nossas mudanças?  Com que olhos sonolentos das manhãs cada vez mais diurnas, poderemos distinguir as rugas que vão desenhando em nossos rostos? Como na lentidão de raciocínios que a velocidade das coisas nos condena, poderemos nos desafiar a nos redescobrirmos?  Como poderei filtrar densamente minhas alternativas, se nem ao menos me ocupo em pensar seriamente nelas? Como suprir o que me falta, se o pouco que retenho está destinado aos que me são próximos? Talvez a reflexão dessas questões tivessem salvo meu emprego anterior e meu casamento... A única coisa boa de se chegar ao fundo do poço é saber que mais para baixo não se desce e que pior não fica!!! Caro amigo leitor, confesso que tenho um entendimento medíocre sobre o verdadeiro mundo em que vivo... Uma vez eu li que os 


serventes que encontramos nas firmas que trabalhamos, nos shoppings, nas ruas... são  ignorados, não os cumprimentamos e eles não esperam ser cumprimentados; temos medo de abrirmos uma 
porta e por ela sermos invadidos. Por medo somos covardes e por sermos covardes temos medo. É fácil falar, eu sei... Eu ainda não tenho o completo entendimento do que fazer! Talvez o que eu chamo de insanidade, seria na verdade uma forma alternativa de ser, pois quem não estava vendo o parceiro de conversa do mendigo era eu, ele, ao 
contrário, enxergava o invisível com perfeição... Minha cegueira nasce das minhas portas pouco abertas para aceitar o diferente, sendo que eu mesmo sou o diferente para outros olhos possuídos por essa mesma cegueira! Raul Seixas, o nosso “maluco” beleza, cantava uma música de motivação maravilhosa. Gostaria de terminar por enquanto com o clip da canção: 

 Tente Outra Vez
      Obrigado por me emprestar seus olhos e tenha um bom fim de semana...
Ricardo Cacilias