Eu daria tudo que tivesse de valor para voltar ao dia em que te conheci. Quando as flores ainda estavam frescas e não havia esse mato alto crescido em minha porta. Quando havia menos rugas de surpresas em meu rosto, por ver que o tempo é contínuo e impessoal. Eu daria o que tivesse e pediria empréstimo para dar um pouco mais, voltar quando tudo era sementes e eu poderia de novo escolher quais seriam plantadas e quais seriam cuspidas... Mudaria quase tudo: minhas frases sem rima, minhas escolhas insanas, meus caminhos mancos. Empilharia no canto do meu íntimo, como livros para doar, todos os planos mal traçados que não me levaram ao mar, mas a um beco sem luz... Arrancaria meus olhos e os pisaria como tomates podres, deixaria minha língua na primeira lixeira, faria uma faxina no coração, aprenderia piadas novas, assuntos relevantes, trocaria a cor da fachada, bateria o tapete da entrada, faria valer as dores que a sua ausência me consumiu... Só não mudaria duas coisas:
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