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quarta-feira, 12 de junho de 2013

O MEDONHO PROCESSO DA DESCONSTRUÇÃO




Sou quem sempre fui. 
Nem por esforço mais, nem por negação menos - apenas sou. Faço do dia-a-dia minha sala de aula num mundo infestado de professores, pessoas que vieram à minha vida e trouxeram o seu tijolo para erguer esse templo em que habito. Mas como quase todos os alunos de um curso, algumas matérias foram melhor assimiladas e outras deixadas meio de lado. Nesta segunda metade da vida, depois de dois casamentos, dos tetos que me abrigaram, de tantas ruas traçadas, tantos becos sem saída; encostei o carro, puxei o freio, parei para repensar meus trajetos. Cansei da eterna improvisação. Isso me faz lembrar o jogador de futebol que joga olhando para frente e não para bola, a diferença é que o primeiro não é surpreendido, não lhe tiram a bola, consegue ver o goleiro adiantado... O segundo tem a bola como foco, não enxerga o caminho do gol, quase sempre não ganha o jogo. Estou feliz porque deixei de ser perfeito, perdi definitivamente a chancela da razão, aprendi a ouvir, aprendi a não gritar, aprendi que a humildade não é uma fraqueza, é o termômetro que mede a razão. Aprendi a perguntar: Será que estou certo? Estou vivendo o meu contínuo processo de polimento da prata da casa: ética, respeito, franqueza e verdade. Procurar o aperfeiçoamento é um trabalho diário e sem esforço não há brilho. Sou quem sempre fui, as pessoas não aniquilam o seu eu, mas acredito que é possível aprender a reavaliar prioridades e prioridades bem definidas nos levam a melhores escolhas. Meus óbvios me abandonaram à beira da estrada, virei passageiro chato que pergunta demais, que abre o mapa, que discute trajetos, que não quer mais ver a paisagem como um filme, mas ser parte dos seus contornos. Prefiro a velocidade de quem caminha sobre o asfalto, do que a lucidez dos que voam sem rumo. Eu já fui o que meus papéis diziam, textos inebriantes de currículos, números sequenciais dos documentos, fotos e mais fotos, quase filmes do meu processo de envelhecimento. Já estive em cárceres privados nos neons da tela da TV, mas seus tentáculos, seus fios, seus cabos de energia foram sepultados numa sacola. Não pertenço mais à TV, ela não me dita mais as atitudes do dia seguinte, nem faz dos meus pensamentos o esgoto das suas cores; agora me distraio pensando por mim mesmo... Tantos tapas levei que racharam a massa grossa da minha maquiagem. Estou deixando de ser um conceito e descobrindo a vida por trás da pressa. Durante anos minha vida foi vivida do lado de fora, uma fome insaciável por sensações, por sabores,ansioso por experiências... Os anos, as circunstâncias e um ser pensante acima de mim chacoalharam minha adoração pelo externo.Desconstruir para reconstruir no prumo não doeria tanto se eu fosse um monte de tijolos, mas a carne sente e o espírito sofre, porque é muito difícil romper a continuidade e tentar algo diferente. Hoje sinto que o foco dos meus interesses encontrou o caminho de volta, onde tudo começou, dentro de mim. Parece uma coisa chata, mas é uma experiência emocionante. É a surpresa de quem acha dinheiro na gaveta, é a sensação boa de ter entrado numa estrada com flores nas encostas. Mas não me iludo, continuo sendo quem sempre fui, a diferença é que estou ciente quanto aos vazamentos do meu dique. Conheço minhas feras, elas me assustam, mas não me intimidam mais. Aceito minhas limitações, a envergadura e os alcances dos meus braços, não vivo mais em promiscuidade com a fantasia. Agora me reconheço no que sempre fui: um ser humano buscando a sua identidade. Essa aventura está apenas começando...


12-06-2013