DIA DOS PAIS

Tive dias em minha vida que me julgava muito esperto, sagaz, capaz de fazer tudo que eu queria e conquistar tudo que eu desejava; não pensava muito sobre isso, mas sentia como se fosse viver para sempre... O tempo (sempre ele), pacientemente foi descosturando as majestades desse meu traje de príncipe, o tempo foi  ordenando os valores e afinando percepções mais realistas dentro do meu entendimento. Não sei quanto aos outros, mas para mim, crescer dói.
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Meu pai, na idade em que me encontro agora, tinha tudo que eu ainda estou lutando para conquistar e acima de tudo, tinha uma família unida. Hoje me pergunto, quem foi o mais esperto? Quem foi o mais sagaz? Quem fez tudo que queria e conquistou tudo que desejava?

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Se ao invés de ter transbordado tanta vaidade e orgulho em muitos momentos do nosso relacionamento, eu tivesse absorvido com humildade a sua sabedoria e conhecimento, esse texto estaria agora repleto de outras palavras.

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Tivemos bons momentos e momentos não tão bons, ele morreu num ano em que nossos momentos não estavam tão bons...

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Não vou dizer que um dia vamos nos encontrar e poderei dizer tudo que deveria ter dito ao longo de anos de convivência e beijá-lo e abraçá-lo sem fim, porque em minhas orações já tenho feito isso, mas beijá-lo e abraçá-lo sem fim, sim, isso eu farei!

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Te amo meu pai e muito obrigado pela vida.

11-08-2019

ETERIDADE, O CICLO DO AMOR

Perdi um grande amigo. Morreu minguando como as nuvens baixas num dia frio sobre o mar. Diante de meus olhos sem atitude, vestido do espanto que nos descobre as vaidades. Estive ao seu lado enquanto morria, enquanto seu brilho se alimentava de uma chama tremula
que se extinguia. Vi seus olhos assustados entregar-se ao indefinido, desfazendo-se de seus planos, decompondo-se de seus combinados, de suas ideias que o mantinham atrelados as esperanças de dias melhores. Qualquer coisa que nos contagia, ao morrer, leva parte da vida que nos doou... Não se substitui na mesma plenitude um grão de areia, nem uma estrela, nem uma vida, nem um amor... Nada terá o cheiro, a frase, a forma e o jeito de se fazer presente, pois para o bem ou para o mal, cada coisa tem em si a singularidade... Sobrou apenas um punhado de cinzas, poeiras que me incomodam os olhos em forma de saudade, a certeza de que não somos donos de nada, não governamos nada, somos apenas alguma alegria da fantasia de que somos senhores do destino. 

O IDIOMA OFICIAL DO INFERNO

Gosto de escrever, não que eu escreva bem, mas escrever me ajuda a acalmar meus 3 monstros: o vazio, a ansiedade e a frustração. Quando escrevo minha mente entra em sintonia com o imaginário criativo, a mesma energia que escolheu o lugar em que cada estrela ocuparia no Universo, que detalhou o corpo humano, o sabor do mar, a cor do por do Sol, as emoções, a vida, a morte... Sou muito entupido para criar uma ideia do zero e fazê-la fantástica e absoluta, mas com o que tenho e o pouco que posso fazer já me ajuda a adormecer meus monstros e ser feliz. Desde criança tenho uma inimiga chamada Língua Portuguesa, não nos gostamos e pouco nos respeitamos. Não é que a língua portuguesa seja difícil, ele é impossível! Uma simples palavra porque é escrita de quatro formas diferentes, dependendo do sentido, da forma, do tempo e de outras trilhões de justificativas que só os poucos iniciados entendem. Se digo “...pois sim!” a um pedido, estou dizendo não e da mesma forma, se digo “...pois não!” a outro pedido, estou dizendo sim! Viagem é com "g", viajar é com "j". Como explicar isso a um estrangeiro se eu mesmo não entendo? É uma simples implicância da minha parte ou a coisa é doida mesmo? Para uma pessoa mediana como eu isso é demais; então faço assim, vou escrevendo salpicando pontos e vírgulas aqui e acolá e fico bem assim, pois sei que só 1% da raça humana saberá que pontuei errado. O Português foi criado para ser difícil, dizem que foi usado na 2ª Guerra como código pelos nazistas e os americanos nunca decifraram as mensagens... Quando você finalmente entende uma regra gramatical, ela vem agarrada com bactérias malfadadas chamadas de exceções, são inúmeras, ardidas, cruéis, que só poderiam ter sido desenvolvidas pela mente maligna do capeta, aliás, já se sabe que o Português é o idioma oficial do inferno... 

Fazer o que... 

08-06-2019

POEMA SOBRE ENFEITES DA ALMA

Não é do amor que sinto falta, engraçado, não é? Nem daquela transada boa que dá canseira, nem de sorrisos fáceis, nem de nada que a dois tanto faz fazer ou viver... O que sinto falta mesmo é de sentir a doce energia vindo de um olhar cativante, amigo, preocupado, cuidadoso, comprometido. O que sinto falta é acordar no meio da noite e ouvir a presença de um respirar manso e tranquilo ao meu lado, como que dizendo: "Não se preocupe, estou aqui, volte a dormir..." O que sinto falta são das perguntas que me fazem sentir especial: "Avisa quando chegar...” “Melhorou?” “Vai demorar muito?” “Estou te esperando...” “Estou com saudade..." O que sinto falta são coisas que parecem ser miúdas, mas que tem um brilho inigualável quando acontecem: meias frases, olhar furtivo, o cheiro, o toque; onde até a ausência é gostosa de sentir. Não conheço ainda palavras suficientes para explicar a sutileza das coisas que sinto falta, esses "enfeites da alma", mas sinto falta, sinto muita falta...

08-06-2019