Meu Blog

A eternidade é o
momento que se renova

Nosce te ipsum
Conhece a ti mesmo
γνωθι σεαυτόν
γνωθι σεαυτόν


sábado, 2 de julho de 2016

TEXTO SOLTO



PALAVRAS
.
Quantas palavras usei?
Quantas me restam a dizer?
Será que todas eu sei?
Tenho um coração de palavras,
que não penetram em teus ouvidos...
E cada dia é menos um dia,
convivendo com esse morrer aos pouquinhos;
de sede, de fome, de ar
Por causa desse excesso de palavras,
que não consigo entregar aos teus ouvidos.




MEDOS
.
Tenho medo de morrer sozinho neste apartamento 
e ser descoberto pelo zelador
Tenho medo de não dizer um monte de coisas 
que gostaria de dizer, aos ouvidos certos, 
aos corações certos, as minhas almas penadas
Mas por cautela demais ou por tempo de menos, 
Vou guardando esses ditos comigo
Tenho medo de morrer sem ser amado, 
de não ser devorado pela saudade de alguém, sem ver o por do Sol 
mais bonito de todos que assisti.
Tenho medo de não ver o sorriso dos meus netos.
Tenho medo de ficar sem os perdões que me devo; 
das coisas que fiz e que não deveria ter feito 
e das coisas que não fiz, mas que fiquei devendo.
Tenho outros medos que não vou dizer aqui, 
escrito em duas folhas grandes com letra miúda,
Mas por favor, não se apresse em vir me dizer 
que não devemos ter medos, 
pense antes nos seus, inconfessáveis.
Ter medo não é tão ruim assim, 
se eles nos ajudarem a idealizar novos percursos 
e nos cobrarem a ser pessoas melhores...
Porque não?
.
17-05-2016




POR DO SOL
.
Voltava agora neste finzinho de tarde pra casa e vi o por do Sol no fim da rua. Eu estava de moto, e pelo retrovisor olhei o meu passado na sombra comprida que me acompanhava. Pelo instante de um piscar de olhos, vaguei pelo infinito, 
e não achei ninguém...
Ou o infinito é menor do que dizem, 
ou estou realmente muito sozinho. 
.
01-05-2016



SER
.
É muito ruim ser um imenso mar
que flutua sobre o leito de areias secas
É muito ruim pertencer a um Universo
iluminado pela luz de estrelas inatingíveis
É muito ruim ser uma semente
Cativa de rochas cegas e surdas
É muito ruim ser
sem ter com quem estar... 
.
29-03-2016










sexta-feira, 17 de junho de 2016

OLHAR


Nesses dias de calor eu morava em Rio das Ostras e numa daquelas noites de verão de 2016, começou a chover forte. Cheguei até a varanda e um pouco da água benta do céu respingava no meu rosto, até que ouvi meu anjo dizer em meus ouvidos: “Pega papel e lápis, vai chegar um texto no seu coração, anota tudo...” Quando terminei de escrever dei o nome de OLHAR.





OLHAR
.
As vezes
eu só quero um olhar
pode ser curto, ligeiro, fugaz,
mas que seja intenso enquanto dure
ainda que um instante
sem perfume
sem mapa
sem diamante,
tão fundo quanto posso mergulhar
Que me devassa a alma
e rasgue minhas resistências da entrega
Que me tome por seu
e me deixe sem saber
onde sou eu onde é você

As vezes
eu só quero um olhar
que se seja o meu Sol
meu Norte
meu Lar
Que divida os mares
que me costure as estrelas
que destranque as portas do Paraíso
e que sopre o abandono da solidão,
para terras que nunca vou pisar...
tão íntimo e tão particular
que mesmo de Deus passará despercebido 

As vezes
eu só quero um olhar
sem que me faça de réu
sem me dar sentença,
puro, mágico e constante
Dele farei a minha morada 
e viverei do ar que nos aproxima
a mais linda história de amor
e serei feliz pela eternidade 
dessa vida de instantes


21-02-2016

terça-feira, 7 de junho de 2016

BOLO DE ABACAXI

Baseado em fatos reais







Quando a noite chega e os ecos que o dia produz vão se desprendendo de minha alma virando página virada, outros sons, que moram no "santo dos santos" do meu ser, me chamam a lembrar de casa; da velha casa de muitos anos, da casa dos meus pais. Hoje fui levado as vitrines das lembranças ao entrar num supermercado daqui de Macaé e, passando por uma das mil prateleiras de um dos seus mil corredores, vi um bolo com uma etiqueta escrito, Bolo de Abacaxi. Parecia uma senha, Bolo de Abacaxi. Ao ler essa frase me senti transportado para um tempo em que eu era apenas uma criança amada. Que saudade do cheiro de bolo de abacaxi que perfumavam os sábados a tarde da minha casa. Minha mãe fazia bolo com pedaços de abacaxi caramelizados, simplesmente, uma explosão de sabor numa fatia de bolo. Comprei o bolo na esperança de encontrar, em suas fatias, minha infância, minha mãe, minha casa, meus dias de criança... Mal cheguei em casa, sei lá onde larguei minha mochila, sem lá em que canto a chave da moto caiu, atravessei paredes e cheguei na cozinha com a faca em punho debruçado sobre o tal Bolo de Abacaxi. Cortei uma fatia como um médico cortando o peito de alguém para chegar ao coração. Abri minha boca e provei o bolo. Acordei como num susto. Não tinha pedaços de abacaxi caramelizados, nem minha infância, nem minha mãe, nem minha casa, nem meus dias de criança... 

Só havia saudade...








07-06-2016



quinta-feira, 21 de abril de 2016

CONVITE AO RETORNO



.



















Se me concedessem a escolha

Não pediria mais tempo de vida
Nem riqueza, sabedoria ou poder
Pediria apenas que voltassem, 
filhas malditas
.
Pediria que voltassem minhas toscas frases,
de vírgulas mal concedidas,
escondidas nas pernas das letras erradas
.
Pediria que voltassem a se esconder 
debaixo da minha língua,
de onde foram sopradas pelo ar 
de uma garganta enganada
.
Se me concedessem escolher
pediria algo valioso como ser dono de estrelas 
Uma borracha que apagasse o som,.
que desfizessem minhas filhas malditas,
com enfases demais, certezas demais,
desprovidas do abençoado silencio da construção
.
Se me fosse permitido mudar alguma coisa, 
pediria apenas que elas voltassem,
que ouvidos amados me devolvessem 
todas as letras que o desamou;
que fez o Sol da alegria virar neblina...
.
E quando por fim, as tivessem de volta 
de onde foram paridas entre dentes e espumas,
mastigaria uma a uma sem piedade, 
para vomitá-las ao esquecimento 
.
As palavras, depois de ditas, não nos são mais,
vão morar nos ouvidos alheios, 
nos corações de boa memória
ficam ecoando no vazio de almas sentidas
.
Vão morar nos abismos, 
nos planos desconstruídos,
vão desfazer pontes, borrar sonhos
e fazem trocar as virgulas vibrantes
por entristecidos pontos finais.



21.04.2016