.

Se me concedessem a escolha
Não pediria mais tempo de vida
Nem riqueza, sabedoria ou poder
Pediria apenas que voltassem,
filhas malditas
.
Pediria que voltassem minhas toscas frases,
de vírgulas mal concedidas,
escondidas nas pernas das letras erradas
.
Pediria que voltassem a se esconder
debaixo da minha língua,
de onde foram sopradas pelo ar
de uma garganta enganada
.
Se me concedessem escolher
pediria algo valioso como ser dono de estrelas
Uma borracha que apagasse o som,.
que desfizessem minhas filhas malditas,
com enfases demais, certezas demais,
desprovidas do abençoado silencio da construção
.
Se me fosse permitido mudar alguma coisa,
pediria apenas que elas voltassem,
que ouvidos amados me devolvessem
todas as letras que o desamou;
que fez o Sol da alegria virar neblina...
.
E quando por fim, as tivessem de volta
de onde foram paridas entre dentes e espumas,
mastigaria uma a uma sem piedade,
para vomitá-las ao esquecimento
.
As palavras, depois de ditas, não nos são mais,
vão morar nos ouvidos alheios,
nos corações de boa memória
ficam ecoando no vazio de almas sentidas
.
Vão morar nos abismos,
nos planos desconstruídos,
vão desfazer pontes, borrar sonhos
e fazem trocar as virgulas vibrantes
por entristecidos pontos finais.
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21.04.2016 |
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