FFicção
Ficção
Ficção
Era só mais uma noite rotineira de setembro de 1952. De súbito uma mão agarra a barra de ferro do portão da casa e empurra, um rangido mal humorado de ferro enferrujado se faz ouvir, como se fosse um toque de corneta de um sentinela imaginário anunciando a chegada de alguém. Agenor chega do trabalho com um
pequeno embrulho nas mãos. Quase todas as noite ele trazia algum agrado para Dodôra: um pote de doce de leite, queijo de
minas, bombons e de vez em quando ele a surpreendia com suas flores preferidas; margaridas brancas. Flores sempre despertaram o sorriso de Dodôra, as recebia como quem estende as mãos para pegar um filho no colo. Prontamente ela as colocava num vaso de barro cru, que ficava sobre a mesinha junto da porta da sala. Sobre essa mesinha havia um bordado de crochê tecido há muitos anos, na semana em que Dodôra abortara espontaneamente seu terceiro filho. Enquanto ela chorava por essa perda, os fios deslizavam lentamente por entre seus dedos
e se misturavam na ponta da agulha a outros fios, e se perguntava; "porque o meu corpo expulsa meus filhos? Por que estou condenada a não ser mãe?" Poucas horas foram suficiente para que ela terminasse o seu crochê arredondado, pequeno,
de linha branca. Chegou a pensar que só ficara pronto por não ter sido o seu
ventre que o teceu... Esse crochê um dia foi parar sobre a mesinha perto da porta da
entrada, um dia colocaram um vaso de barro cru sobre ele e vez por outra Agenor trazia margaridas brancas para Dodôra colocar nesse vaso. Nunca falaram sobre isso, mas havia entre
eles uma cumplicidade silenciosa, que existe entre os casais, de que as flores eram para manter viva a lembrança dos filhos
que não tiveram. Estavam casados há quarenta anos, um parecia ser a extensão do outro; nos gostos, nos amigos, nas minúcias e intimidades. naquela noite Agenor chega em casa com um
embrulho nas mãos envolvido em papel rosa, de superfície
áspera, semilustroso, cuidadosamente amarrado com um barbante de algodão fino com várias
voltas e no alto havia uma alcinha, confeccionada com o próprio barbante, para carregá-lo. O caminho que Agenor fazia do centro da cidade até o Grajaú, na zona norte do Rio de Janeiro, era
sempre de bonde, quase sempre sentado no mesmo lugar, em silêncio, com um olhar sereno para a velha paisagem de sempre, com um embrulho balançando no seu colo. Ao entrar pelo portão de ferro de casa, caminha alguns passos sobre pedras chatas e polidas, intercaladas por uma grama alta; fazia semanas que ele prometia cortar, mas esquecia de fazer. Dodôra o espera na hora de sempre, de banho tomado, perfumada de
alfazema, com seus cabelos tingidos de castanho claro, demoradamente penteados e presos por uma fita larga de seda. Dodôra não era mais jovem, mas conservava uma sensualidade discreta e meiga de uma mulher madura. Era bonita, tinha um jeito elegante de falar baixo e mansamente; parecia sorrir com as palavras. Seus olhos eram castanhos, corpo magro e um pouco mais baixa que Agenor. Dodôra gostava da maneira com que Agenor olhava para seus cabelos e do
ar de aprovação que fazia quando chegava em casa. Ela se sentia querida e amada. Naquela noite Agenor, como de costume, entra e beija Dodôra levemente nos lábios e num tom de voz de alguém
que declara algo importante, diz: “Meu
bem, eu trouxe tâmaras secas!” Ele nunca deixava que o embrulho em
suas mãos fosse um segredo desfeito apenas pelos nós que selava o embrulho. Ele tinha que contar antes... Dodôra cobre um riso com
os dedos. Agenor pergunta de maneira formal, dando peso as palavras: “O que foi? Tâmaras a fazem rir?...” Ela responde: “Não, meu bem, não estou rindo por causa das tâmaras, você se esqueceu de tirar o chapéu
de novo...” Agenor faz um ar severo, contém seu constrangimento, coloca o embrulho
suavemente sobre a mesa da sala e com as duas mãos retira o chapéu de feltro marrom
escuro da cabeça. Vai até a entrada da sala e o pendura num dos ganchos junto da porta, onde um outro chapéu sonolento descansa e o observa em silêncio, ao lado de um
guarda-chuva seco e adormecido. Ele volta com um olhar sério,
pensativo, quase triste... Dodôra repara na reação do marido, mas fala animada:
“Fiz canja com batatas e cenouras, meu bem, está do jeitinho que
você gosta. Vai se preparar para o jantar, vou terminar de colocar a
mesa...” Como se atendesse a uma ordem, ele sai para o quarto e Dodôra segue para a cozinha. Meia hora

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12-03-2014 |
http://www.doencadealzheimer.com.br/
rtigos - Saúde e Atualidades

1906-2006 – CEM ANOS DA DOENÇA DE ALZHEIMER
Em 1906 o Dr. Alois Alzheimer descreveu o caso de uma mulher de 55 anos que fora internada por progressiva dificuldade de memória, de linguagem, desorientação e delírio de ciúme em relação ao marido. Após três anos a paciente faleceu e, examinando seu cérebro, o Dr. Alzheimer descreveu alterações muito características, que ficaram conhecidas como placas senis e emaranhados neurofibrilares.
O caso foi apresentado em uma reunião da Sociedade Médica do Sudoeste da Alemanha e despertou pouca curiosidade. Nos próximos 60 anos considerou-se a doença de Alzheimer como uma doença rara. É claro que neste período muitas pessoas idosas recebiam diagnóstico de demência, que era atribuída à deficiência de circulação cerebral e para qual se tentava, sem sucesso, medicação ativadora da circulação cerebral. Esta foi a época do auge da noção de esclerose cerebral.
A partir dos anos 60 o processo de envelhecimento da população nos países desenvolvidos acelerou-se, mais casos de demência passaram a ser reconhecidos, e o peso do problema sobre os sistemas de saúde e assistência social tornou-se mais significativo. Estudos de diferentes aspectos das demências se multiplicaram. Necrópsias sistemáticas rapidamente mostraram que a maior parte dos idosos falecidos com demência, apresentava as mesmas alterações da supostamente rara doença descrita no início do século XX.
Com a real dimensão do problema sendo reconhecida, a expressão “epidemia silenciosa” foi cunhada, nos anos 70. Ao final dos anos 70 verificou-se que, na doença de Alzheimer, há uma significativa redução na disponibilidade de um neurotransmissor chamado acetilcolina, que está envolvido nos processos de aprendizado e memória e cuja deficiência pode explicar parte dos sintomas da doença.
O caso foi apresentado em uma reunião da Sociedade Médica do Sudoeste da Alemanha e despertou pouca curiosidade. Nos próximos 60 anos considerou-se a doença de Alzheimer como uma doença rara. É claro que neste período muitas pessoas idosas recebiam diagnóstico de demência, que era atribuída à deficiência de circulação cerebral e para qual se tentava, sem sucesso, medicação ativadora da circulação cerebral. Esta foi a época do auge da noção de esclerose cerebral.
A partir dos anos 60 o processo de envelhecimento da população nos países desenvolvidos acelerou-se, mais casos de demência passaram a ser reconhecidos, e o peso do problema sobre os sistemas de saúde e assistência social tornou-se mais significativo. Estudos de diferentes aspectos das demências se multiplicaram. Necrópsias sistemáticas rapidamente mostraram que a maior parte dos idosos falecidos com demência, apresentava as mesmas alterações da supostamente rara doença descrita no início do século XX.
Com a real dimensão do problema sendo reconhecida, a expressão “epidemia silenciosa” foi cunhada, nos anos 70. Ao final dos anos 70 verificou-se que, na doença de Alzheimer, há uma significativa redução na disponibilidade de um neurotransmissor chamado acetilcolina, que está envolvido nos processos de aprendizado e memória e cuja deficiência pode explicar parte dos sintomas da doença.
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