Você pode achar que é mentira, mas aconteceu comigo...Era um fim de tarde de uma sexta-feira abafada e de
nuvens chorosas, as pessoas em seus carros pareciam saber sobre um iminente ataque nuclear; todo mundo queria sair dali rápido
e buzinavam como se isso acelerasse suas partidas. Depois de um longo dia de
trabalho cansativo, passei em casa correndo, troquei de roupa e enchi minha
mochila com um kit de sobrevivência que nos são valiosos fora de casa: escova
de dente, pente, desodorante e celular. Mergulhei de volta ao transito
caótico, desejava chegar o quanto antes na rodoviária e pegar o ônibus para Macaé,
era aniversário do meu sobrinho Davi. Fui de metro até a estação Central
do Brasil e lá peguei um ônibus que seguiu por dentro do bairro da Gamboa
até chegar à rodoviária Novo Rio. Desci do ônibus quase em movimento e corri
como uma gazela fugindo de um leão esfomeado nas savanas secas de Nairóbi. Faltavam vinte e cinco minutos para a partida do ônibus intermunicipal. A sensação que tive ao chegar
à rodoviária era que iriam distribuir dinheiro a qualquer momento, certamente
estavam batendo algum recorde de saturação. Eu tinha apenas vinte e cinco minutos e um
coração aflito nas mãos. Cheguei ao guichê das passagens e dei
de cara com mais de "oitocentas" pessoas em fila indiana, esperavam a
sua vez de serem atendidas como gado no matadouro. Pensei solenemente depois de
tanta correria: "Fodeu!" Eu
me dirigia cabisbaixo e resignado ao fim da fila, quando um grito de guerra me irrompeu a alma: “Não! Não vou morrer na praia. Vou
embarcar naquele ônibus de qualquer maneira!!”. Havia um plano B, eu era o plano B. "Sou grisalho!" Pensei: "Vou para a fila dos idosos..." Próximo
dali havia um guichê de atendimento especial com apenas 5 senhoras perfiladas e serenas para comprar passagem, pareciam passageiras para o próximo
ônibus com destino ao céu. Um painel negro com um texto em amarelo forte, logo
acima de suas cabeças, dizia: "Balcão de
atendimento especial destinado a: Deficientes físicos, grávidas e idosos".
Foi como se a janela de um quarto escuro se abrisse diante de mim. Minha
urgência me dava salvo conduto e pra lá me encaminhei. De tanto ver filme de Samurai,
desenvolvi certas técnicas ninja de invisibilidade que me davam a certeza
de que eu passaria despercebido por todos e em 15 minutos estaria entrando
naquele ônibus. Após três minutos de fila mais duas senhoras chegaram atrás de
mim. Pensei: “Assim como o Batman, estou cercado
de coringas...”. Nisso
a senhora que estava a minha frente olhou casualmente para trás e quando me viu, levantou suas orelhas como um cão pastor e me encarou sisudamente. O desconforto foi imediato. Essa senhora tinha um coque na cabeça, parecia ter nascido assim, com aquele coque. Havia em seu pescoço duas voltas de pérolas falsas compradas na Rua da Alfândega, lembrou-me a diretora de uma escola pública que frequentei nos anos 70. Eu estava em maus lençóis! Meu temor encontrou justificativas, ela se dirigiu às senhoras recém-chegadas e disse num tom de discurso: “Hoje em dia todo mundo quer ser idoso, invadem as filas dos que realmente tem esse direito... Isso é o Brasil que temos!” Pensei na hora: “Porra, baixou um santo guerreiro nesta mulher. Vai tirar pressão, minha senhora, sai do meu pé...”. As senhoras, atrás de mim, aderiram ao ataque e completaram dizendo: “Concordo com você, minha amiga. É uma esculhambação total, cadê o segurança?...”. E passaram a me encarar também. Apressão só aumentava. Eu estava prestes a ser linchado... Poucos segundos, ácidos e sufocantes, foram o suficiente para que eu pensasse numa resposta reparadora, e falei com propriedade: “Vocês estão com toda a razão! Nesta fila, por exemplo, eu sou o único grisalho. Além de mim vejo apenas lindas senhoras de cabelos castanhos, loiras e de mechas coloridas... Só tem gatinha em minha volta!”. A primeira reação das “meninas” foi de espanto, arregalaram os olhos e se entreolharam... Depois elas olharam para as outras senhoras da fila, até que a mulher a minha frente disse para suas “novas” amigas: “É verdade, só tem gatinha nessa fila!”. E deu uma gargalhada. As senhoras atrás de mim também riram. Eu, claro, também ri; mas de alívio. Amigo, pela minha experiência com as mulheres, sei que elas nunca vão querer ficar mal na "foto", se eu as chamei de "gatinhas", qual delas iria dizer o contrário? Vendo que estava com a situação “no bolso”, ainda passeei de braços abertos pelo campo, comemorando o meu gol: “Tudo bem, meninas, podem ficar na minha fila; é bom ter gente jovem por perto”. Doze minutos depois eu estava dentro do ônibus saindo da rodoviária para Macaé...
a senhora que estava a minha frente olhou casualmente para trás e quando me viu, levantou suas orelhas como um cão pastor e me encarou sisudamente. O desconforto foi imediato. Essa senhora tinha um coque na cabeça, parecia ter nascido assim, com aquele coque. Havia em seu pescoço duas voltas de pérolas falsas compradas na Rua da Alfândega, lembrou-me a diretora de uma escola pública que frequentei nos anos 70. Eu estava em maus lençóis! Meu temor encontrou justificativas, ela se dirigiu às senhoras recém-chegadas e disse num tom de discurso: “Hoje em dia todo mundo quer ser idoso, invadem as filas dos que realmente tem esse direito... Isso é o Brasil que temos!” Pensei na hora: “Porra, baixou um santo guerreiro nesta mulher. Vai tirar pressão, minha senhora, sai do meu pé...”. As senhoras, atrás de mim, aderiram ao ataque e completaram dizendo: “Concordo com você, minha amiga. É uma esculhambação total, cadê o segurança?...”. E passaram a me encarar também. Apressão só aumentava. Eu estava prestes a ser linchado... Poucos segundos, ácidos e sufocantes, foram o suficiente para que eu pensasse numa resposta reparadora, e falei com propriedade: “Vocês estão com toda a razão! Nesta fila, por exemplo, eu sou o único grisalho. Além de mim vejo apenas lindas senhoras de cabelos castanhos, loiras e de mechas coloridas... Só tem gatinha em minha volta!”. A primeira reação das “meninas” foi de espanto, arregalaram os olhos e se entreolharam... Depois elas olharam para as outras senhoras da fila, até que a mulher a minha frente disse para suas “novas” amigas: “É verdade, só tem gatinha nessa fila!”. E deu uma gargalhada. As senhoras atrás de mim também riram. Eu, claro, também ri; mas de alívio. Amigo, pela minha experiência com as mulheres, sei que elas nunca vão querer ficar mal na "foto", se eu as chamei de "gatinhas", qual delas iria dizer o contrário? Vendo que estava com a situação “no bolso”, ainda passeei de braços abertos pelo campo, comemorando o meu gol: “Tudo bem, meninas, podem ficar na minha fila; é bom ter gente jovem por perto”. Doze minutos depois eu estava dentro do ônibus saindo da rodoviária para Macaé...
Ricardo Cacilias
04-12-2012
4 comentários:
Hahaha! Que absurdo, pai! Absurdo, mas muito engraçado... Sempre atrasado e papudo, né? =)
Fazer o que, filha? Afinal esses meus cabelos brancos serviram para alguma coisa. Beijos.
O texto tá bem escrito pai. Realmente foi uma situação engraçada!
Que bom que vc gostou, Thaís. Sua irmã disse que eu sou "papudo"...
Acho que um senhor da minha idade tem que saber se virar nos apertos.
Beijo carinho, filha.
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