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terça-feira, 19 de junho de 2012

SAUDADE...





Um tempo atrás fiz um curso de técnicas de respiração e meditação. Tenho praticado tanto quanto vou me conscientizando de que a viajem ao autoconhecimento é sem bagagem e sem retorno. Esse processo está me ajudando a entender, ainda que lentamente, os mecanismos da aceitação do inesperado, aprender a lidar com  
as coisas que me contrariam e me enfurecem, a entender que nunca terei o controle de tudo, que não sou o centro do Universo e que o Infinito se Move 
independente da minha existência. Enfim... Coisas óbvias! Num desses sábados, bem cedinho, eu estava na sede com outros praticantes sentado com as pernas cruzadas e as mãos esquecidas do corpo.  Depois de um
certo tempo em profunda meditação, senti como se um lenço fino roçasse meu rosto, e na velocidade do cair de uma tarde, eles foram chegando; os rostos dos "velhos" da minha família. Seus rostos surgiam diante de meus olhos fechados como slides; meus pais, meu avô e meus tios. 
Lembrei até das avós que não conheci, pois morreram antes que eu tivesse nascido. Meu coração se encheu de muita saudade. Foi uma inesperada reunião de família. Vou confessar uma coisa, eu sempre me senti assustado ao perceber que a importância do   
papel dos "velhos" foi sendo transferida paulatinamente para meus ombros, na medida em que "eles" partiam e eu precisava ocupar seus espaços. Aquela gostosa sensação de calor, de conforto e de proteção que "eles" me proporcionavam, foram para as prateleiras da lembrança e passou a ser a minha função gerar esse conforto e segurança para aqueles que eu amo. Sinto-me tão deficiente nesta missão... Então como uma represa que não sustenta o peso do represado, 
minhas reflexões romperam minhas paredes e chorei compulsivamente de saudade! De saudade... Quando somos filhos não temos exatamente a dimensão de quanto um abraço espontâneo é valioso para os pais. Um abraço quente, com o reconhecimento do cheiro, um abraço de entrega, um abraço tão sincero que provoca os espíritos a se abraçarem também. Um abraço desses é como um retorno, uma re-integração 
ao corpo que se repartiu para o outro existir... Lamento profundamente ter abraçado tão pouco meus pais. Fazem-me falta os abraços que poupei. Eu me achava um jovem tão “esperto” e considerava meus pais “pouco interessantes”. Porque só agora consigo apreciar a nobreza que tinham? Porque tão tardiamente reconhecer a capacidade que tinham em gerar resultados e a profunda sabedoria que havia em suas decisões? Meus pais eram geniais e muito melhores do que e  
jamais serei! Ontem eu pedi um abraço a minha filha Thaís. Num outro dia, lá na academia em que eu e o Felipe frequentamos, para o seu constrangimento, roubei-lhe um abraço seguido de um beijo. Felipe não me abraça, encosta suas mãos em minhas costas, mas eu não me importo, eu já fui assim. É estranho, mas quando eu abraço meus filhos, sinto 
estar abraçando meus pais também. Acho que é isso que somos, numa ponta os pais que tivemos e na outra somos nossos filhos que a vida fará encurtar as distancias do entendimento. Estou certo de que essa minha manifestação de carinho um dia será útil aos meus filhos, vão ter o abraço do pai para lembrar, quando estiverem no meu lugar como provedores de calor e segurança para quem for as pessoas da vez a serem amadas.


19-06-2012




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