Foi numa dessas noites em que o dia se desfez em suores e a expectativa de um novo dia faz renovar nossos sonhos por dias melhores, que minha ansiedade me segurou pelos ombros e me sacudiu até que eu acordasse... Com os olhos inchados me sentei na beira da cama e tentei fazer um “combinado” com ela; como um acordo de cavalheiros entre inimigos no campo de batalha. Minha proposta foi que se ela me despertasse durante a madrugada, eu não iria olhar para o relógio e nem iria querer saber por quanto tempo ficaria acordado, dessa forma eu tentaria enganar a minha percepção e na manhã seguinte não sofreria tanto...
Como fui inocente em acreditar que haveria alguma honra nessa senhora. Essa messalina traiçoeira passou a aumentar a intensidade da luz do aparelho da TV a cabo e sua hora digital, pareciam atravessas minhas pálpebras denunciando as horas; ao tentar me refugiar na cozinha, a luz do relógio digital do microondas era tão forte que parecia decalcar os números das horas nas paredes, piso e teto... E finalmente quando meus olhos acabavam encarando a face do tempo, uma risada estridente dessa megera se fazia ouvir, a chamei de filha da puta, e a risada só aumentou. Está acontecendo agora de novo, é madrugada e sei que são quatro horas da manhã. A sonolência me fez levantar da cama tão lentamente como se flutuasse, os chinelos foram entrando em meus pés enquanto caminhava em direção a janela. As cortinas balançam como ondas preguiçosas de um mar cativo a sensualidade da Lua cheia. Apoiei minhas mãos na janela, parecia que iria me jogar, mas era para ver melhor a majestade dessa luz. Respirei fundo, ou foi um suspiro, nem sei ao certo... O ar fresco da madrugada me possuiu como um espírito. Havia um som distante, alguém ouvia uma música antiga, talvez outro cara como eu despertado por seus fantasmas. Ainda deu para ouvir os últimos instantes de um casal fazendo amor; ela gemia agitada, transbordante e aos poucos foi se acalmando saciada. Seu gozo foi devorado pelo anonimato das janelas. Madrugada mágica, fria, iluminada. Maldita ansiedade! Agora a vejo literalmente materializada por minha insônia; parece um borrão de desenho de bruxa mal vestida, apagado por uma borracha velha. Seus olhos amarelados me encaram fixos enquanto abre seu sorriso encardido e desprezível de canto de boca, sua imagem me causa repulsa. Finalmente ela sobe em sua vassoura, da duas voltas silenciosas junto do teto do quarto e sai desfarelando-se pela janela, sorridente, vitoriosa... Nosso acordo está desfeito, não se pode fazer acordo com a ansiedade. O covarde do sono esta voltando e a noite escapuliu do meu descanso; vejo a luz apalpando as estrelas, já vai amanhecer!
10/03/2012
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2 comentários:
Não brigue com a ansiedade...
Acordo feito, relaxa, respira, respira, respira bem fundo cada vez mais devagar, medita e, o sono volta com tudo. Mente limpa, coração tranquilo...
Boa sorte, amigão!!
Rita
É um bom plano esse, Rita. Vou pô-los em prática.
É um prazer receber sua visita. Beijos.
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