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γνωθι σεαυτόν
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sábado, 17 de dezembro de 2022

UM PRESENTE SEM MERECIMENTO

Tive noites em minha vida que adormeci chorando, embalado pelo álcool e os gritos alucinantes da solidão, e tive, como companhia, lembranças que me esvaziavam as esperanças de um dia melhor... Tive anos de minha vida que ganhava muito bem, morei em Ipanema, tinha um bom carro, sempre com roupas novas, viagens e todos em casa tínhamos tudo que precisávamos. Tive o privilégio de ter sido casado com duas mulheres excepcionais, pessoas muito melhores do que eu: parceiras, amigas leais, comprometidas, que me deram lindos filhos, mas sozinho consegui sabotar tudo isso achando que nada e ninguém resistiria a minha inteligência e sabedoria, quando na verdade eu confundia inteligência com arrogância e sabedoria com prepotência. Tem um versículo bíblico que fala de mim em Provérbios 16:18: “A soberba precede a ruína, e a altivez do espírito, a queda.” Com a queda passei a ser apenas um homem de passos, dono de um corpo sem sombra, morador de uma casa sem ecos. Nesta casa tinha uma janela na cozinha onde eu via o tempo passar com um café nas mãos, assistindo sucessivas manhãs e tardes, misturadas com Sol, chuva e muita nublação... Timidamente e sem jeito eu pedia ajuda, timidamente eu dizia para Ele: “Deus, me ajuda!...”

Foi numa sexta-feira qualquer de fim de expediente, nas cercanias do céu, em dezembro de 2018; algo fez com que tudo mudasse. Um estagiário a anjo de início de carreira, cheio de energia e de bom coração, mas atrapalhado pela inexperiência, foi escolhido para fazer com que eu parasse de enviar milhares de mensagens pelo coração, entupindo os tramites do céu. Minhas orações haviam enchido páginas e páginas do computador do Arcanjo Gabriel e sem tempo para resolver minhas súplicas, ele encaminhou minhas mensagens para Kael com a seguinte ordem: “Dê um jeito nisso!” Como já estavam terminando o expediente e seguirem para o fim de semana, Kael pegou sozinho um arquivo pesado, e meio atrapalhado, ao tentar colocar sobre sua mesa, o arquivo caiu e todas as fichas se espalharam pelo chão, misturando a minha ficha com um monte de outras fichas de pessoas que também haviam pedido ajuda aos céus. De boca aberta e pálido pela burrada que cometera, ouviu alguém gritar lá do fundo: “Kael, já vamos fechar, acabe logo com isso...” Ele pegou a primeira ficha, que estava naquele monte de fichas espalhadas, juntou com a minha e encaminhou para os tramites celestiais. Guardou tudo rapidamente, passou uma vassoura no chão, desligou as luzes e foi embora esperando que ninguém tivesse visto suas atrapalhadas. Dois dias depois Nalva pediu para ser minha amiga no Facebook, eu aceitei curioso para saber quem era; olhei suas postagens antigas e tive uma sensação de que a conhecia, parecia familiar, parecia simpática, gostei dela... No mês seguinte, já tinha passado o Natal, numa conversa na internet ela me perguntou onde eu iria passar a virada de ano. “Em casa vendo os fogos na TV...”, respondi. Ela riu e achou que eu estava brincando. Perguntou se eu não queria passar com ela, com sua nora e seu filho; assim poderíamos nos conhecer pessoalmente. Eu disse: “Claro que sim, vai ser legal...” E marcamos num determinado ponto da Lagoa de Imboassica, em Macaé.

Quando cheguei no local marcado, lá estava ela sorrindo timidamente, me aproximei e abusado como sempre dei a mão, não para cumprimenta-la, mas para puxa-la e dar dois beijos em seu rosto. Ela sorriu e colou os meus olhos nela... Esse foi o início do mistério: porque sempre me senti tão bem ao lado dela? Porque temos temperamentos tão parecidos? Porque acreditamos nas mesmas coisas de Deus? Porque naturalmente fomos nos condensando, nos aliando, nos integrando, com regras de respeito e convivência tão suavemente férteis? Porque? Só vejo uma explicação: Até mesmo quando um anjo atrapalhado embaralha as fichas e as distribui do seu jeito, é a mão de Deus que seleciona sua sugestão e cabe, unicamente aos nossos esforços, pegar essa sementinha da oportunidade e faze-la frutificar em nossa vida e em nosso coração. Ter conhecido a Nalva, foi como ter voltado para casa depois de uma longa viagem cansativa, com os pés cheio de calos e o coração seco de amor...

Obrigado Kael! ❤️

domingo, 12 de junho de 2022

POEMA DO AMOR

sexta-feira, 1 de abril de 2022

 

Esses são minha filha Renata e meu genro Geovani. Sinto muita saudade deles, moram lá para as bandas de Dois Irmãos, na subida da serra de Gramado no Rio Grande do Sul. Fica à 1760 km de onde estou escrevendo esse texto. Fica um pouco menos do que a distante de Berlin a Moscou (1817km), quase a distância de Madrid, na Espana a Amsterdã, na Holanda (1775km), e de Roma, na Itália a Varsóvia, na Polônia (1782 km). A distância consegue salgar partes do coração deixando-o ardido, pois não é a distância de uma calçada ou um quarteirão a ser vencido com passadas largas e em linha reta; são centenas de quilômetros para ir e outros tantos para voltar. A distância metaforiza a saudade numa garganta sedenta, que não tem água, por mais gelada, que a faça morrer. Só me resta me enganar; finjo que não ligo, que nem quero tanto assim estar junto. E a Terra gira, os dias viram noites e as noites sempre amanhecem. E num dia qualquer como hoje, e numa hora qualquer, como agora, ela vem de novo como chuva fina, depois chuvarada de verão e quando vejo sou levado de novo a sentir o abraço forte da saudade... Nos últimos tempos a saudade foi aumentando na medida que foram nascendo meus lindos netinhos: Isabela, Lucas e Davi. Mas eu digo:  É muito melhor ter uma saudade ardida do que não ter a quem sentir a ausência.

Eu amo vocês. Deus os abençoe!


Ricardo Cacilias 

- 01/04/2022 -



quarta-feira, 16 de março de 2022

Semente da Solidão


Solidão é uma semente que viaja nas ventanias 
da indiferença e desencontros, buscando aqui e ali um coração fértil para germinar; para gerar uma planta sem caule, sem folhas e sem frutos. Chega como uma leve brisa de fim de tarde, sem alardes, sem trombetas e suas raízes se espalham em todas as direções trançando uma longa teia de raízes finas e penetrantes. Procura se alojar no peito, acomoda-se entre as costelas e ali faz a sua morada. Seu alimento é a cota diária de esperança que Deus renova pelas manhãs. Quanto mais ela se alimenta, mas sentimos fome, até que tudo passa a ser apenas um nó de raízes secas no lugar em que antes havia um coração fértil. Mas... Ela não é um destino, é uma sombra que se desfaz na luz. Ela não é o silêncio do vácuo, pois se houver voz, a fala é livre. Ela não é uma prisão, pois não é mais forte do que a iniciativa. Não deixando que ela se alimente do Manah de esperança que Deus renova todas as manhãs, ela será levada pela mesma brisa de fim da tarde que a fez chegar. Agora, não se apaixone pela solidão, porque ela não retribui amor e nem sinta auto piedade. Apaixone-se por você...



Ricardo Cacilias
- 16-03-2022 -