Acordei com alguém me chamando.
Ainda é cedo, misturei água no pó e fiz café...
Acho que assim deveria ser o amor, um café bem feito, quente, perfumado, fumegante. Que nasce da mistura de duas
pessoas e a chama da convivência faz essa mistura pingar até restar a essência,
até que não se possa mais distinguir onde é um, onde é o outro; não existe mais
pó, não existe mais água - só café.
Com o café na caneca, arrasto biscoitos comigo e
me sento junto à janela da cozinha, jogo meus olhos para fora como se
fossem confetes num dia de festa..
Devo estar sonhando que estou acordado e se for
até o quarto, verei que estou deitado sonhando que estou bebendo café. Isso explicaria
porque os biscoitos falam. Cada um que pego vem com vozes agarradas, biscoitos
que me dizem por qual direção eu deveria ter seguido, quais palavras eu nunca
deveria ter desembrulhado e outras que eu deveria ter repetido tantas vezes,
que até as estrelas encobertas pelo Sol saberiam repeti-las em coro; assim,
quem sabe, meu coração teria perdido a virgindade da sua natureza egoísta
e enxergaria coisas que não pertencem aos olhos enxergarem....
Às vezes o perfeito é contemplar sem ter que entender
tudo, explicar tudo; viver intensamente o início e o fim de cada segundo, como
se o próximo fosse o derradeiro..
Será que a sutileza da simplicidade é se deixar
levar como uma folha pousada sobre um rio manso? Acho que se eu tivesse sido
essa folha, estaria agora jogando confetes de verdade pela janela ao invés dos
meus olhos, não teria de ouvir conselhos de biscoitos secos e nem estaria
tomando um café sozinho...
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17-01-2017 |
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