Meu Blog

A eternidade é o
momento que se renova

Nosce te ipsum
Conhece a ti mesmo
γνωθι σεαυτόν
γνωθι σεαυτόν


quinta-feira, 30 de maio de 2013

A VINGANÇA DO REI ZANCHOR




Em 3025 a.C. iniciou-se a guerra entre os reinos de Thibal, do rei Zanchor, e Mirneha, do Rei Denerad. No primeiro ano os exércitos caminhavam para os combates orgulhosos, entoavam seus hinos de glórias aos seus reinos e de desprezo ao inimigo. Cinco anos depois, com os campos destruídos e as cidades devastadas, no estômago a fome emudecia as vozes, restavam apenas cansaço e muita dor para os dois lados. Não eram mais relevantes os motivos que levaram a guerra, apenas o ódio movia os homens que empunham suas lanças e espadas. Ao fim do inverno de 3020 a.C., a última tropa de resistência do Rei Denerad encontrou-se sitiada entre as margens do rio Eufrates e as colinas de Thar. Cercados, travaram o combate mais sanguinário da guerra. Naquele dia havia mais sangue no rio, do que água doce. O segundo em comando no reino de Thibal, o príncipe Anaco, irmão do rei Zanchor, fora crivado de flechas e morre sobre os rochedos, agarrado a sua espada. Um pouco antes de cair à noite, o reino de Thibal termina por vitorioso e a guerra passa a ser história. Avisado sobre a morte do irmão, Zanchor corre ao seu encontro e ele próprio ergue seu corpo e o coloca sobre uma pequena carroça de provisões e o conduz de volta ao palácio.

As tropas do rei Zanchor chegam a Thibal com os primeiros raios de sol, escoltando os prisioneiros e a cúpula de comando de Mirneha; Rei Denerad, Comandante de Cavalaria, príncipe Afico; Comandante das Tropas de Elite, príncipe Nuben; Comandante das Estratégias, príncipe Ziman e Comandante de Infantaria, príncipe Alutâmaren. Alojados em celas individuais aguardam serem chamados ao salão principal para o julgamento no Conselho de Guerra. Rei Zanchor fede a sangue seco do irmão, as manchas de sangue que cobrem suas vestimentas de combate tem o desenho bizarro da morte. Logo abaixo do salão principal de audiências, no subsolo, foi montada improvisada uma câmara mortuária para o príncipe Anaco. Seu corpo foi colocado ao centro da câmara, sobre um tampo de pedra polido do jeito que chegou do combate, apenas sem as flechas que lhe perfuraram. Sozinho rei Zanchor desce as escadas até o subsolo, ao abrir a porta se depara com o corpo do irmão, espalma o rosto e encobre os olhos e a boca, tem vergonha de chorar... Se aproxima, aperta o rosto do cadáver entre as mãos e encara os olhos semicerrados de Anaco, bolas sem expressão, opacos. O ambiente é sombrio iluminado apenas pelas chamas de uma lareira próxima. O frio faz as palavras de Zanchor saírem como vapor que batem no rosto de Anaco e se desfazem no ar. Despido de toda a realeza, sem o brilho de um rei vitorioso sobre seus inimigos, Zanchor chora protegido pelo anonimato.

O discurso de Zanchor diante de Anaco.

Como é estar entre os mortos, irmão? Sente frio? Medo? Há luz? Está com nosso pai ou as cores do fim te envolvem e te desfazem? Porque não me obedeceu e ficou entre os nossos guerreiros? Porque correu com a espada girando ensandecido, como se tentasse dividir o céu em dois? Tinha pressa, como todos nós, em por fim a essa guerra? Pensou que seria mais ligeiro do que a nuvem de flechas que te encobriu? De que valeu ter matado cem e não tê-lo junto à mesa de comemoração? O que digo para tua mulher? O que digo para teus filhos? O que você tem a dizer a mim? Vê quantas perguntas? Respondeu-me alguma? Um guerreiro é mais lembrado pelo que conta, do que pela eloquência de um corpo inerte. Essa guerra levou nosso pai, tirou você do meu convívio, matou muitos dos nossos amigos e por cinco anos vivemos o dia a dia desse vale sem luz. Rei Denerad aguarda meu julgamento, saberei dar a ele a mais zelosa vingança. Há várias formas de se destruir um homem, mas quebrar seu orgulho e tirar-lhe a esperança, é a mais abrangente que conheço. Se encontrar nosso pai, beije-o por mim, se nada ouviu do que te disse, te manterei vivo comigo até que eu parta ao seu encontro. Eu, o rei, inclino a cabeça e te honro na morte, assim como te amei em vida. Volto já!”

O Rei beija a testa do irmão e se afasta. Vai até a pesada porta e sobe por uma escada de pedra, segue para o salão principal, alguns metros acima da câmara. Rei Zanchor entra no salão através de outra porta atrás do trono, encoberta por uma pesada cortina. Dois guerreiros montam guarda a porta, quando o Rei surge, os guerreiros fazem a saudação marcial. Mão esquerda de punho fechado que bate no ombro direito. Saudação feita apenas ao monarca, pensada de forma a ser feita sem que se tenha que largar o armamento. Zanchor faz um breve movimento com a mão e eles voltam a posição de guarda. Seu semblante parece encoberto por ataduras, era impossível fazer qualquer leitura de suas feições. Suas sobrancelhas pesam sobre seus olhos. Rei Zanchor é alto, mede mais de 1,80 m e porte musculoso; exigências de anos de combate em muitos campos de batalha. Sobre suas costas uma pele de algum animal de pelo escuro, quase da mesma cor da sua barba. Na cinta uma adega polida do lado esquerdo e uma espada que quase toca o chão do lado direito. Quando rei Zanchor contorna a parede, onde seu assento está encostado, o ambiente que estava em alvoroço, fica em silêncio. O auxiliar do trono ao ver o Rei anuncia: “Rei Zanchor está no recinto, saudemos a majestade do rei!” E todos a um só tempo, reclinam a cabeça até o queixo quase encostar no peito. O monarca se coloca a poucos centímetros da sua poltrona e tem a mão direita sobre a empunhadura da espada. Permanece em silencio, imóvel, apenas seus olhos se movem pulando de um rosto ao outro entre todos os presentes. Zanchor desembainha a espada e a entrega, junto com o seu manto de pelo de animal, ao auxiliar do trono e senta. O salão está tomado de guerreiros de primeira linha, heróis de guerra, menções honrosas, comandantes de 100 guerreiros, chamados de Hundra e comandantes de 1000 guerreiros chamados de Tusen. Em destaque e mais próximo ao trono está seu comandante em chefe das forças de combate, Comandante Nirtan. Zanchor inclina a cabeça para o lado e olha para o auxiliar do trono, este dá dois passos a frente e invoca o conselho militar. Novamente outro brado: “Que se inicie o Conselho Militar!”. Neste momento os civis saem; primeiro as mulheres, em seguida os mercadores, negociantes, nobres, até que no salão permaneçam apenas os militares, chefes de comando, os príncipes, filhos de Zanchor, o comandante Nirtan e o Rei. O ar fica pesado. O rei fala a Nirtan: “Comandante, mande trazer os prisioneiros.” Nirtan é um velho militar, pouco dado a sutilezas, sua fala é pesada, seus gestos são grosseiros. Balança a cabeça na direção de um oficial que imediatamente sai acompanhando de 10 homens. Momentos depois as pesadas portas do salão principal se abrem e cinco prisioneiros amarrados são escoltados diante do trono. Rei Denerad e seus filhos.

Ao vê los entrar, Zanchor se levanta e diz apontando Denerad: “Esse homem é um rei, não deve ficar de pé e amarrado. Comandante, mande desamarra suas mãos e que lhe tragam um banco para que se sente.” De imediato surge um burburinho entre os oficiais, um desconforto se instala ao ver o prisioneiro ser trato com o título de rei e ter sido ordenado que o desamarrassem... Ele é um prisioneiro de guerra e muitos guerreiros morreram para que ele pudesse estar ali nesta manhã. O comandante Nirtan percebe o desconforto da tropa, e com a experiência de um velho oficial de campo, não hesita em puxar sua espada, e ao fazê-lo, imediatamente a guarda palaciana faz o mesmo em apoio ao comandante. Ele se vira para a assembleia e grita com feições ensandecidas: “Alguém aqui é surdo? Não ouviram o que Rei Zanchor disse. Façam!! Agora!! E rápido!!" Um pavor toma conta entre seus subalternos, sabem da voracidade e determinação da espada do comandante e da sua lealdade ao rei. As cordas são cortadas e um banco de cedro é colocado as costas do Rei Denerad. Seus filhos, em pé e amarrados, olham-se sem entender. O rei Zanchor se senta impassível, contemplativo. Não demonstra emoção. Inclina ligeiramente o corpo a frente e pergunta a Denerad: “O que espera dessa nossa conversa?” Denerad responde: “Porque chama esse teatro de julgamento? Nós sabemos que estou condenado! Faça o que melhor achar de mim, mas poupe meus filhos.” Fala num tom de voz que mais parece uma ordem do que um pedido. Zanchor responde: “São tão culpados de crimes contra o meu povo quanto você.” Denerad, levantando as sobrancelhas responde ironicamente: “Crimes? O que há de crime num campo de batalha? Não existem inocentes a segurar espadas...” Zanchor retruca: “Seus guerreiros ocupavam cidades sobre a minha proteção e possuíam as mulheres por trás, da forma que minha fé abomina. Não bastava destruir as cidades, degolar os velhos e crianças e fazer dos homens de escravos, mas por sua ordem e com o objetivo da humilhação, fizeram de nossas mulheres prostitutas.” Denerad se levanta rapidamente e de dedo em riste fala: “Seus guerreiros fizeram o mesmo!!!” A resposta vem em seguida: “Não por ordem minha! Eu domino a vontade dos meus guerreiros, mas não tenho comando sobre a direção de suas vinganças. Deveria ter deixado nossas diferenças apenas nos campos de batalha, e não na cama de nossas mulheres. Você blasfemou contra o deus em que acredito agindo dessa forma...” Denerad responde com um sorriso de deboche: “Não falemos de deuses agora, sua vida foi amaldiçoada diversas vezes pelos meus sacerdotes. Seu corpo e sua alma serão consumidos, restará apenas teus olhos para assistir fim que te espera” Zanchor se encosta em sua poltrona, abaixa o tom de voz e responde como se estivesse diante de um amigo: “Deus? Seu deus? Você vê seu deus aqui neste salão? Penso que ele te entregou aos teus inimigos, pois estava farto de suas orações inexpressivas e de seus incensos fedorentos. Aquela pedra empoeirada, a quem você chama de deus, fará o que sabe fazer de melhor: ficará muda, não se moverá e manterá seus braços cruzados sob sua imensa barriga” Denerad fala mastigando as palavras: “Filho de uma cadela! Maldito seja! Que a dor da sua morte não tenha fim...” Foi o único momento, durante todo o julgamento, que rei Zanchor grita enfurecido: “Atenta com muito cuidado a forma como se dirige a mim diante dos meus comandados. Você está em meu palácio, não na sua latrina.” Voltando ao tom de voz anterior, continua: “Acho que você deveria estar mais preocupado quanto ao seu fim do que com o meu. Mas vou procurar agir com justiça e benevolência. Quer salvar a vida de seus filhos?” Denerad pergunta com interesse: “De que benevolência você se refere?” Zanchor responde abrindo ligeiramente os braços: “Também sou pai. Poderia ter sido eu a estar no teu lugar agora e tentar salvar a vida de meus filhos... Vou te dar uma escolha, mas não duas. Escolhe um filho a morrer degolado, aqui e agora, diante de todos nós. E eu preservarei os outros três.” Um burburinho discreto surge. Comandante Nirtan, próximo do rei Denerad, olha para seus guerreiros. Os quatro filhos de Denerad; Afico de 29 anos, Nuben de 36, Ziman de 27 e Altâmaren de 32 olham entre si e ao pai. Denerad se levanta novamente de maneira enérgica e com as veias do pescoço infladas, grita: “Isso é um absurdo! Você está falando com o rei Denerad, do reino de Mirneha. Você me ofende com sua benevolência...” Zanchor interrompe Denerad com um gesto vigoroso da mão: “De igual forma, você me ofende com sua recusa. Rei? De que? De quem? De Onde? Seu reinado consumiu-se em decisões insanas e mal aconselhadas pelos teus comandantes. Estes que estão ao teu lado. Teu reinado agora resumisse a este banco de cedro e sua vida durará enquanto eu quiser... Escolhe agora, dentre seus quatro filhos, qual morrerá diante de você e salva os outros três; ou assistirá a morte de cada um deles, pois te deixarei por último a sentir a lamina desgastada da espada...” Neste instante os quatro filhos de Denerad pedem por suas vidas, esticam suas mãos amarradas, suas vozes se embolam as suas súplicas. Os que antes era a nobreza de primeira linha do reinado de Denerard, agora não passam de homens que gritam como galinhas no matadouro. Denerad se envergonha dessa atitude e esmaga os cabelos entre as mãos. O vermelho da raiva cobre seu rosto. Seus olhos giram. Sentado em seu banco e com a cabeça entre as mãos, Denerad grita um nome: Nuben!” Seu primogênito. Em seguida grita outro nome: Ziman!” Seu filho caçula e por fim: Afico!”. Os três filhos chamados se entreolham e em seguida afastam-se lentamente de Altâmaren. Percebendo que havia sido o escolhido para a morte, seus olhos esbugalham-se. Vira-se para o pai e fala: “Que te fiz pai, para, dentre nós quatro, eu seja o escolhido a morte? Não fui forte o suficiente ou não te obedeci em todas as tuas vontades? Decepcionei-te? Não fui o filho merecedor da tua compaixão?” Denerad não reage as perguntas do filho, permanece cabisbaixo. Altâmaren solto um grito medonho de horror que ecoa pelo salão. Cai de joelhos e chora copiosamente, nem tanto pela morte que se aproxima, mas por ter sido o escolhido por seu pai a morrer... Rei Zanchor faz um sinal para o comandante Nirtan, este se vira ao guerreiro mais próximo e ordena: “Chame Meganon e tragam o cepo.” Meganon é um guerreiro musculoso, olhar inexpressivo, tem uma longa cicatriz que começa na orelha esquerda e termina no alto do nariz. Ele será o verdugo da sentença. Meganon entra com uma grande espada, mais larga e mais pesada do que as demais. Caminha lentamente até o centro do salão. Atrás dele seguem dois ajudantes que se esforçam para trazer um pesado cepo de carvalho; e por fim um terceiro serviçal trás um cesto de palha do tamanho de meia braça. Quando chegam ao centro do salão, os serviçais têm dificuldades de abaixar o pesado cepo, perdem o equilíbrio e o cepo cai pesadamente sobre o piso provocando um barulho seco e desagradável. Aqueles que não viram que o cepo ia se chocar com o chão, tomam um enorme susto. Quase na sequencia, um cálice de pedra polida é trazido a Altâmaren. Neste cálice contém uma bebida de ervas amargas, deixa o condenado em estado parecido com a embriagues, mas de efeito muito mais rápido. Um gesto de cortesia ao condenado se é possível ser dito dessa forma. Altâmaren olha o cálice e balança a cabeça recusando-o. Um guerreiro vem por trás e rasga suas vestes. Suas mãos são amarradas atrás das costas. Ele é conduzido até o cepo e com um violento golpe de lança na dobra da perna, é forçado a se ajoelhar. Sua cabeça é envolvida por cordas, que passam por argolas nas extremidades do cepo, para que não possa mover-se. O cesto é colocado diante do condenado. Zanchor, que a tudo acompanhava em silêncio, fala pausadamente, quase sussurrando: “Não! Tire o cesto, quero que a cabeça role pelo chão.” O serviçal sai apressadamente com o cesto nas mãos assustado. Não há mais o que esperar. Meganon abre as pernas e ergue a espada acima da sua cabeça, tem os braços levemente flexionados. Fica imóvel por um instante, focado no ponto onde a lâmina deverá tocar no pescoço de Altâmaren. Instantes de expectativa se arrastam. Dos irmãos, apenas Nuben, o mais velho, observa. Os demais irmãos e Denerad estão com suas cabeças viradas para o lado. Meganon balança a espada... De súbito o rei Zanchor se levanta e todos olham para ele sem entender o seu movimento naquele momento. Meganon hesita, não sabe se desce com a espada ou espera. Alguns acham que Zanchor se levantará para assistir melhor a execução. Meganon abaixa a espada lentamente. O Rei coloca a mão esquerda para trás e com a direita acaricia a barba, como se pensasse. Com isso consegue reter a atenção de toda a assembleia aos seus movimentos. Parecendo ter chegado a alguma conclusão, diz: “Uma das benesses em ser um monarca, é poder mudar de ideia sem consultar a ninguém.” Todos permanecem como estátuas e em silêncio. Rei Zanchor conclui. “Decidi poupar a vida desse mancebo." Rei Denerad faz uma expressão de incredulidade e contentamento. Os irmãos dão urros de alegria. Apenas Altâmaren não se apercebe do que está acontecendo. Parece em estado de choque. Zanchor volta para seu trono, senta-se e calmamente e anuncia: “Que sejam executados os outros três, imediatamente!” Uma confusão incendeia o salão, os militares aplaudem... Altâmaren é empurrado ,ainda com as mãos amarradas as costas, para fora do cepo e no seu lugar é colocado Ziman que grita e esperneia desesperadamente como um porco no matadouro. A espada desce com violência e precisão. O som de sua voz ainda ecoa no salão enquanto sua cabeça rola até o primeiro degrau do trono de Zanchor. Nuben é conduzido até o cepo e age da mesma forma que o irmão, o corpo de Ziman é jogado para o lado e Nuben ocupa o seu lugar. Ainda mais rápido do que o anterior, sua cabeça é decepada e rola para o lado oposto da primeira. Por fim Afico é executado de igual forma e eficiência por Meganon. Ao fim das execuções, o chão está coberto de sangue e três cabeças se espalham em volta do cepo. Denerad precisa ser contido pelos guardas, parece possuído e blasfema contra o Rei; seu ódio não pode ser descrito com palavras... Zanchor observa impassível a reação de Denerad, há quem diga tê-lo visto sorrir ligeiramente com o canto da boca. Alutâmaren está caído, sem reação, apenas olha fixamente para o chão que acabara de vomitar sobre o sangue dos irmãos. Rei Zanchor pede silencio com as mãos e diz: “Tragam a vestimenta mais fina do reino e vistam o Rei Denerad...” Como se já estivessem aguardando, dois serviçais entram com roupas caras e perfumadas entre as mãos. Denerad é vestido com a distinção de um rei, sapatos de seda com fios bordados a ouro são colocados em seus pés, um tipo de turbante achatado é colocado em sua cabeça. Uma faixa larga, ricamente bordada, circunda sua cintura. Surge um detalhe inesperado, na cinta lhe é colocada uma adaga e uma espada, tão polida que possui o brilho de mil sóis do meio dia. Um manto de seda, da mesma cor dos sapatos, cobre suas costas e ombros. Outro grupo de serviçais entram com mais roupas, não tão ricas quanto as primeiras, mas extremamente finas e são vestidas em Alutâmaren, que também recebe uma adaga e espada. Os dois estão exaustos como recém chegadas de uma longa caminhada. Zanchor desce lentamente os três degraus que o separa do piso, se aproxima de Denerad e fala junto ao seu ouvido de forma que apenas ele o escuta falar: “Você tinha tudo que um homem poderia desejar: riqueza, autoestima, determinação, família, fé, um reino e poder, mas eu te tirei tudo isso! O que te resta agora... é presente do teu inimigo..." Denerad permanece imóvel encarando Zanchor. “Levem os dois, deem um cavalo a cada um e os escoltem para fora da cidade e os deixem ir.” Comandante Nirtan se aproxima de Zanchor e pergunta: “Será prudente deixa-los ir, majestade? Quer que eu envie um comando e que sejam mortos no campo?” Zanchor responde sem olhar para Nirtan: ”O rei Denerad está morto, o que vemos andando a nossa frente é um cadáver... Se ele não acabar se jogando sobre sua própria espada, Altâmaren é quem irá matá-lo.” Dito isso Zanchor se vira em direção a porta do subsolo, caminha poucos passos e fala ao serviçal do trono: “Mande limpar esse sangue, já chega de moscas no palácio...” Contorna a parede entre o seu trono e a porta que o leva ao subsolo na câmara mortuário do irmão. Vai cuidar dos preparativos do seu enterro.  



Texto de ficção, sem valor histórico.


Último texto na casa antiga. Amanhã casa nova. 
Lembrando Moisés, 
que as águas das dificuldades se repartam em dois 
e que eu possa caminhar em frente com meus pés secos.


Ricardo Cacilias
30-05-2013



Nenhum comentário: