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A eternidade é o
momento que se renova

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γνωθι σεαυτόν
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quinta-feira, 20 de setembro de 2012

VIRANDO PAREDE...







Estou me fundindo 
a este lugar, desfazendo-me das carnes, estou 
virando parede. 
Absorvendo a rugosidade da tinta, bebendo da sua cor, calcificando minha garganta, cercando de tijolos minhas expectativas; pois estou virando parede. Surge em meu corpo, aqui e ali, furos de pregos que se foram, 
que seguravam telas de Sol nascente, marcas de fitas que um dia prenderam fotos e seus sorrisos; estou empoeirando-me, desgastando-me... Estou virando parede. Um dia lembrarão de saber como estou e sapatos trarão seus donos a minha porta, virão ver que luz me resta nos olhos e de que palavras ainda me recordo. Entrarão porta a dentro chamando meu nome, entrarão sem bater para fazer surpresa e a surpresa será o vazio do lugar... Perguntarão entre si por onde eu ando? Quem me viu passar? O que devo estar fazendo?... E estarei diante deles, gritando e agitando meus braços, tanto quanto uma parede pode gritar e se agitar. Não me verão e nem me ouvirãoporque sua demora me desfez, seu esquecimento me apagou, meu tempo acabou, me deixaram virar parede...


20-09-2012
em memória a tantos que
hoje moram nas paredes



segunda-feira, 17 de setembro de 2012

PLANO DE FUGA




Estava assustado. Quando vim para este lugar minhas referencias estavam ausentes, não havia nada além de indiferença. A primeira noite foi a pior, os sons que a noite produz, indefinidos e distantes, eram assustadores.  Parecia que o mundo lá fora cochichava a meu respeito. A única coisa que brilhava no escuro eram meus olhos. Cada vez que acordava me perguntava: “Onde estou?” meu desanimo respondia: “Ainda estamos aqui!...” Deixei as coisas largadas, provisórias, espalhadas, amontoadas. Prato com resto de comida próxima a cama, gavetas reviradas, caixas por esvaziar, sapatos empilhados, um mundo em suspensão. Eu tinha medo, medo de que se eu organizasse esse lugar, poderia parecer que estava aceitando estar aqui, poderia sugerir ao destino de que eu aceitava sua ideia louca de me trazer para cá; que cada gesto de ordenar e arrumar eram
pregos a mais nesta maldita porta. Cansei de esperar pelo resgate que não viria, conclui que estava por mim mesmo e resolvi reagir diferente. Comecei a arrumar este lugar, a limpar, a deixar com um cheiro de esperança. Passei a exercitar o meu corpo, iria precisar dele forte e sadio. Passei a meditar e a dar ouvidos aos segredos do meu íntimo. Passei a rezar mais e a envolver Deus no meu plano de fuga. Passei a acreditar que esta prisão é provisória e que sua existência se fortalece enquanto não aceito ocupa-la no meu entendimento. Que na verdade eu sou a prisão e não as paredes que me retem. Abraçando este espaço, entendo seus contornos,
aprendendo com seu significado, a porta se destrancará pelo poder da minha superação e sairei pela porta da frente como um homem livre. Esse é o plano B e o único que tenho. 

Esse é meu plano de fuga.


Ricardo Cacilias
   17-09-2012