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sábado, 21 de abril de 2012

MEU CÁRCERES PARTICULAR



Tenho feito mais amigos nos últimos 8 meses do que nos 8 anos anteriores... Um desses amigos é a Sandra, uma jornalista, escritora e acima de tudo um ser humano. Mencionei num texto antigo que o mundo é habitado por uma horda de Fdp e uns poucos seres humanos; ela se encaixa no segundo grupo. Estou mencionando Sandra porque numa conversa ela me contou que esteve a trabalho num cárceres "estourado" por policiais. Sei que estou exagerando, melodramatizando (sou geminiano o que você espera de mim?), mas aluguei um quarto em Botafogo e na primeira noite dormi entre paredes virgens das minhas emoções, ao lado de móveis carrancudos, impessoais e surdos das minhas histórias, sem meu cheiro, seco das minhas lágrimas, distante das minhas objeções, então lá pela meia noite a lembrança do cárcere veio a minha mente. Sinto-me um meliante preso por minhas ações... Ou conforme a frase atribuída a Pablo Neruda "Você é livre para fazer suas escolhas, mas prisioneiro das consequências" Ontem Iza me ligou, uma jovem velha amiga de muitos anos. Não nos falávamos a tempos. Sobre a nossa rápida conversa uma frase me chamou atenção: ela disse que vivemos dias em que a adaptabilidade é mais importante do que a improvisação... E para completar a ex-senhora B me enviou um e-mail dizendo que as mudanças fazem parte da vida, nos fazem renascer... Para alguém como eu que ama a rotina, alguns conceitos são como ter na ponta do garfo um grande pedaço de carne... eu preciso cortar em pedaços menores para conseguir digerir esses conceitos sem engasgar...  
É a obra prima de Deus falando comigo. Deus e suas mulheres. São as mulheres que não permitem que o mundo imploda. Se eu não gostasse tanto de ter um pinto, a ideia de ser uma mulher não é absurda. Elas estão 10 andares acima, mais próximas do céu católico, mas próximas da sensibilidade de Deus, mais próximas da visão mais clássica e pura da palavra humanidade... Ok, possivelmente eu seria uma mulher gay. Em meados dos anos 80 eu ouvi uma pregação de um pastor falando sobre O Tempo, o Agora e o Depois. Foi marcante, até hoje me recordo das suas palavras, mas quando ele disse que daqui a 100 anos ninguém saberá como eu era, o que fiz e o que vivi... Me ajudou a ver que eu não sou o centro do Universo e que o Sol não gira ao meu redor... Se eu fosse aquele comunista clássico que não aceita a existência de Deus, que não existe salvação e não existe o dia seguinte da morte, eu estaria tranquilo como uma criança bebendo leite quente nos seios de sua mãe... Você pode não concordar comigo, mas milhares de povos ao longo de milhares de anos dizem que a vida e a morte são continuidades da existência em planos diferentes... Acreditar nisso me faz dar pesos e medidas as minhas ações. Me faz acreditar que não existe buraco fundo e secreto suficiente para encobrir atitudes desastrosas e escolhas de uma vida. Eu sei que poderia ter sido um filho melhor, um pai melhor, um marido melhor e uma pessoa melhor do que tenho sido, ainda que acredite que não sou uma pessoa má, apenas uma pessoa... Não quero ofender aos judeus, mas até Hitler tinha momentos de ternura com crianças arianas e fazia festinhas em suas cabeças loirinhas enquanto dizia: Linda criança germânica... Nada é absoluto, nem a bondade e nem a maldade, mas ser apenas uma pessoa de atitudes boas me parece relativamente pouco. É estranho pensar que que daqui a 100 anos ninguém saberá sobre as coisas que realizei e no que acreditava. Em que eu baseava minhas atitudes, de que tintas eu pintava meus sonhos, de como eu entendia a constituição do amor e em que crenças eu depositava meus respeitos... Caso essa tecnológica possa me fazer sobreviver a esse tempo e um Cacilias do final desse século descubra fragmentos sobre mim, gostaria de dizer a ele que não existe espaço no mundo cibernético que pudesse conter descrições sobre a minha vida, das minhas paixões, das certezas de minha alma, assim como o Universo não teria espaço para que cada um desabotoa-se sua existência e desnuda-se suas vísceras... Uma vida é tão absolutamente grandiosa quanto são as estrela que possam caber no infinito... 
Mas ao menos, você do futuro, saiba que 100 anos atrás, numa noite solitariamente pessoal e indivisível, dormi entre paredes pintadas de ausências;
e chorei por minhas faltas... Uma noite em meu carceres particular...  


Ricardo Cacilias