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A eternidade é o
momento que se renova

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γνωθι σεαυτόν
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quinta-feira, 29 de setembro de 2011

PELADO DEBAIXO DA CAMA...

Meu secreto amigo, fui censurado!!! A censura ainda habita fugas nos porões da ditadura! As reações sobre a postagem dos SEIOS dividiram a sociedade brasileira... Recebi telefonemas, e-mails, me fizeram sentir um tarado safado, quando na verdade meu texto era uma declaração de amor ao sublime corpo da mulher! O mundo jaz na hipocrisia... e no maligno também... Até o provedor em que eu faço as postagens me acanetou uma censura; apagou as imagens das mulheres com seus mamilos de fora... Tive que procurar outras imagens com moças peitudas devidamente sutianzadas para repor... Pelo menos sei que os sensores também estão me lendo...  Programei para hoje uma noite light e por fim, antes de dormir, sentar diante deste velho e desbotado teclado e te contar uma história que aconteceu no século passado com meu irmão. Na época achei engraçada, principalmente porque aconteceu de verdade. Ao chegar do trabalho agora à noite, liguei para meu filho mais novo chamando para jantar comigo. Eu iniciei um regime constantemente adiado ou odiado, não sei bem... Estou caminhando e controlando a alimentação, já emagreci 3 quilos!!! Waaalll. Segundo o Germano, quando nos separamos pensamos um pouco mais na gente, queremos emagrecer, pintar o cabelo... Na verdade quero apenas derreter uma barriga conquistada por anos a fio por 14 horas diárias a frente do computador. Se a ex-senhora B não me quer mais, segundo um grande amigo, Júlio Campos, é bom abrir espaço para as senhoras C, D, E, F, G... Um abraço Júlio!! Pensando numa comida de baixa caloria, escolhi preparar um peixe com um fio de azeite português, finas ervas, fatias de azeitonas pretas, rodelas de ovos e arroz com passas... Após 10 min. ao telefone sob árdua insistência, Don Felipe aceitou vir... Achei maravilhoso poder jantar com meu caçula, o “último da série”! Tirei 1 kg de peixe para descongelar, separei os ingredientes e fui dar uma ajeitada na cozinha; eis que minha tia me telefona... Uma hora e meia ao telefone querendo falar sobre assuntos que eu não queria falar, já passou por isso?? Essa minha tia é a única irmã do meu pai, muito lúcida, muito coerente inclusive, mas eu não uso mais fraldas, ou melhor, aprendi a trocar sozinho minhas fraldas... Detesto conselhos óbvios: “...olha para os dois lados antes de atravessar a rua...”, “...não como mariscos se não tiver certeza que estão frescos...”, “...não ponha a mão no fogo, poderá se queimar...”, “...quando abrir a porta do elevador, veja se ele está no andar para não cair no fosso...” É fácil ditar regras... é como espirro, vem e solta... Mas sabemos que o vento não pode ser encanado, que o gelo não pode ser seco e que não podemos ver a cor do som... A vida é como uma partida de futebol, muitas vezes somos derrubados na pequena área ou hesitamos em explodir o pé na bola e fazer aquele gol de placa... No meio da minha conversa com minha tia meu celular toca e me avisam que Felipe não viria... Um quilo de peixe descongelado... Pqp... Regra número UM quanto aos filhos: DIMINUA SUAS EXPECTATIVAS QUANTO A ELES!!! É absurdo, mas os filhos querem ter vida própria... Certamente fui uma decepção em inúmeras circunstancias para meus pais... Bom... Vamos mudar o rumo dessa prosa.
Não fiz o tal peixe, encarei um sanduíche de queijo branco com orégano e jantei sozinho em companhia de três cadeiras vazias e uma estúpida lâmpada no teto que piscava vez em quando...  Novembro de 1983, meu irmão tirou a carteira de motorista... Eu morava nesta época em Novo Hamburgo na região metropolitana de Porto Alegre. Faceiro com um ícone nas mãos, a carteira de motorista, sonho dos adolescentes de classe média quando completam seus 18 anos, Roberto logo depois comprou um carro usado... um Chevette bege. Já era tarde da noite quando ele voltava para casa, na Tijuca. Ainda inexperiente, calculou mal uma curva na Praça Alfonso Pena e bateu de leve num carro estacionado no meio fio. Que merda!! Parou imediatamente, saiu do carro e foi olhar os amassados... Nada relevante, mas para a cabeça de um adolescente, sozinho, de madrugada, excitado com as novidades, as coisas tendem a parece bem pior do que realmente o são! O sangue desceu, ficou branco como uma vela nova, a boca secou e o coração disparou. O que vou fazer?? Pensou! Nisso, do outro lado da rua, uns caras bebendo cerveja num botequim, atraídos pela movimentação, saíram do boteco e foram se aproximando. Em sua mente confusa tinha certeza de que o carro era de um deles. Vou levar porrada... Não, vão me matar... Preciso fugir!!! Como ao volante do batmóvel, Roberto se pirulitou para fora da zona de perigo. Dirigia certo de que “eles” o estavam perseguindo pelas ruas do bairro. Chegou em casa, estacionou na garagem do prédio e nem esperou o elevador, subiu correndo os 10 andares que o separavam da segurança do lar. Entrou pela sala a dentro e encontrou meu pai sossegadamente vendo um filme... Com seus olhos arregalados e cara de fudido, contou tudo para o nosso pai. Meu pai nunca foi de muita brincadeira comigo; talvez ainda mantivesse um apurado grau de expectativa comigo, o mesmo em que estou aprendendo a diminuir com meus filhos... Mas com o Beto era diferente, ia ao Maracanã, saíam juntos, rolava até umas brincadeiras. Meu pai disse para o Roberto: Calma, você está muito nervoso! Bebe uma água, vai toma um banho frio... Roberto na mesma hora seguiu as recomendações do meu pai; bebeu água, foi ao banheiro e entrou debaixo do chuveiro. Nisso que o Roberto já estava todo molhado, a campainha de casa tocou repetidas vezes, nervosamente, ameaçadora... A urina escorreu-lhe pelas pernas. Me acharam!! Do jeito que estava e com uma toalha de rosto escondendo suas vergonhas, foi até a sala pingando água pelo chão e disse para meu pai: São “eles”, o que eu faço?? Meu pai deu uma ideia: Vá pro seu quarto e se esconda debaixo da cama, eu falo com “eles”... Roberto correu pro quarto, largou a toalha no chão e se jogou para debaixo da cama, fazendo aquela lama de água com teia de aranha. Seguiu-se um silêncio sepulcral. Ficou ouvindo com os olhos que se mexiam de um lado para o outro, tentando imaginar o que ia acontecer... Nenhum som. Nada! Nem porta se abrindo, nem a voz “deles”, nem passos, nada! Apenas o barulho do seu coração se cagando de medo!!! Após uns minutos que pareceram uma eternidade, Roberto foi se arrastando para fora da cama, andou silenciosamente nas pontas dos pés até a porta do quarto, foi escorregando pela parede até chegar à sala. Mas o que ele viu não preencheu algum sentido em sua mente. Encontrou meu pai sentado vendo o mesmo filme que assistia antes. Sussurrou baixinho lá da porta do corredor... Pai, cadê eles??? Foram embora??? O que você disse??? Meu pai olhou para o Roberto e disse calmamente: Fui eu que toquei a campainha, não tem ninguém lá fora... E completou dizendo:
Fica esperto ao volante... Ter um carro é ter que ter responsabilidade...
E Roberto nunca mais bateu com o carro ou foi imprudente ao volante.
Desculpe-me, acabou me sobrando tempo essa noite e escrevi demais...
Adorei estar em sua companhia e dividir contigo coisas tão queridas para mim. Durma bem.

Ricardo

domingo, 18 de setembro de 2011

SEIOS...







Eu adoro os seios da mulher. É a parte do corpo feminino que mais me excita, faz meu erotismo ganhar assas, ASAS DE DRAGÃO. Lembro bem da primeira vez que uma mulher me mostrou seus seios, me senti diante das portas do céu, sem trincos, sem culpas e sem Pedro. Fiquei tão extasiado nessa minha santa iniciação, que senti meus pés se desgrudarem do chão, aos pouquinhos fui perdendo a audição e a noção de tempo e de espaço foram resumidos aqueles olhos que me lambiam a
alma. Meus olhos queriam mergulhar naqueles seios, descobrir de que açúcar são preparados os sonhos inesquecíveis... Fui devorado por aqueles mamilos! Naquele dia meus olhos virarão homem feito, independente do menino ansioso que me habitava; meus olhos e aqueles seios fizeram um amor silencioso, como o voo de um anjo sonolento. Ao olhar meus olhos no espelho na manhã seguinte, eles haviam ficado verdes. Mas nem tudo é flores, a mulher não viu a menor graça naquele meu estado contemplativo, abotoou as portas de sua blusa, levantou-se e foi embora me deixando afogar em doces salivas profanas... Naquela época não havia metro no Rio, mas eu já sabia qual seria sensação dquem corre escadas abaixo as portas do trem fecham na sua cara, partindo e levando a sua vontade de ir também... Acho que os seios foram a última parte que Deus criou na mulher, pois é a mais erótica, a mais poderosa essencialmente a mais linda.



Ricardo Cacilias
   18-09-2011

  

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

O MALUCO BELEZA DE CADA DIA...

Há uns meses atrás eu estava indo almoçar na Casa Clipper na Rua Carlos Goes, que fica em frente ao cinema Leblon. Eles tem um feijãozinho delicioso e eu estava com muita
fome... Andando apressado e derramando pensamentos pelo caminho, me deparei com uma cena inesperada: Vi um mendigo sentado num banco conversando calorosamente com um ser invisível, ao menos era invisível para mim... Mais à frente, num outro banco que fica virado para o cinema, do outro lado da rua do boteco para onde eu
me dirigia, coincidentemente havia outro mendigo, também conversando com seu “amigo” invisível. Ter visto estas duas cenas acontecerem em seguida ao meu percurso, conseguiram me tirar do afogamento que meus pensamentos me submetiam; na verdade cheguei a sorrir imaginando a seguinte situação. Eu me aproximaria do primeiro mendigo e o convidaria a se sentar no outro banco, 
onde havia o segundo mendigo, apresentaria uns aos outros deixando os quatro no maior papo... Cheguei a me divertir com esse pensamento... Mas
isso tudo é muito triste; alguém perdeu o ônibus da vida e ficou para trás! Alguém foi rolando degrau a baixo, sem tesão de retomar a si mesmo e retornar aos desafios do dia-a-dia. Alguém cedeu à contínua pressão e cozimento que o mundo nos submete, e se deixou ficar ao relento, sob a chuva, a maresia, ao vento, ao tempo... Sem Facebook, sem internet, sem identidade, sem lar, sem cama, sem lençol enxaguado com amaciante, sem uma privada limpa, sem a água do chuveiro... Como estou passando por momentos obtusos, tenho outras lentes para ler a situação que antes me fez achar graça... A dor nos costura numa dimensão mais humana, sacode nossas caspas e nossos pensamentos com elas. A rotina é um embaçador do vidro do carro, acabamos dirigindo na chuva com as mãos agarradas ao volante e ficamos só olhando para frente, nos fazendo desprezar as imagens do espelho retrovisor... Como diante da velocidade das coisas, podemos nos redescobrir? Com que 
mãos obstinadamente ocupadas, teremos para apalpar nossas mudanças?  Com que olhos sonolentos das manhãs cada vez mais diurnas, poderemos distinguir as rugas que vão desenhando em nossos rostos? Como na lentidão de raciocínios que a velocidade das coisas nos condena, poderemos nos desafiar a nos redescobrirmos?  Como poderei filtrar densamente minhas alternativas, se nem ao menos me ocupo em pensar seriamente nelas? Como suprir o que me falta, se o pouco que retenho está destinado aos que me são próximos? Talvez a reflexão dessas questões tivessem salvo meu emprego anterior e meu casamento... A única coisa boa de se chegar ao fundo do poço é saber que mais para baixo não se desce e que pior não fica!!! Caro amigo leitor, confesso que tenho um entendimento medíocre sobre o verdadeiro mundo em que vivo... Uma vez eu li que os 


serventes que encontramos nas firmas que trabalhamos, nos shoppings, nas ruas... são  ignorados, não os cumprimentamos e eles não esperam ser cumprimentados; temos medo de abrirmos uma 
porta e por ela sermos invadidos. Por medo somos covardes e por sermos covardes temos medo. É fácil falar, eu sei... Eu ainda não tenho o completo entendimento do que fazer! Talvez o que eu chamo de insanidade, seria na verdade uma forma alternativa de ser, pois quem não estava vendo o parceiro de conversa do mendigo era eu, ele, ao 
contrário, enxergava o invisível com perfeição... Minha cegueira nasce das minhas portas pouco abertas para aceitar o diferente, sendo que eu mesmo sou o diferente para outros olhos possuídos por essa mesma cegueira! Raul Seixas, o nosso “maluco” beleza, cantava uma música de motivação maravilhosa. Gostaria de terminar por enquanto com o clip da canção: 

 Tente Outra Vez
      Obrigado por me emprestar seus olhos e tenha um bom fim de semana...
Ricardo Cacilias

domingo, 11 de setembro de 2011

A ESTREPADA DO MALANDRO...

 
Ricardo Cacilias - Foto Atual
Hoje é domingo, que pena....   Na lista dos dias que mais gosto ele não está bem conceituado;   domingo lembra segunda-feira. Chego a ficar ansioso quando vai caindo a noite. Normalmente amanheço com trilhões de planos, caminhar na lagoa, fazer exercícios, organizar minhas coisas, blá, blá, blá ... acabo não fazendo nada disso... Parece que o dia passa mais rápido do domingo! Os índices de suicídio aumentam muito quando toca a musiquinha de encerramento do Fantástico... Quando eu era adolescente e acabava o Fantástico, era a hora de começar a fazer trabalho de casa passado na escola desde sexta a tarde... Como sou agora um solitário iceberg flutuando no mar da vida, chamei meu irmão, minha cunhada, meu sobrinho, uma tia e um primo para virem almoçar comigo. Conhece o ditado? "A necessidade de se locomover faz o sapo pular". Quero dizer, estou me saindo uma excelente "dona de casa"... Ai, pega mal falar assim. Vou dar outro conceito a coisa: estou me saindo um excelente "Administrador Doméstico". Melhorou... Lavei toda a louça, comprei umas carnes e assei no forno em baixa temperatura, fiz salada de batata com cenoura, azeitona e ovos, ficou uma d-e-l-í-c-i-a... Fraldinha na manteiga e uma picanha suína... Foi muito gostosa a nossa reunião, a comunhão de pessoas que se conhecem desde sempre... Caro amigo, como estou sem inspiração, hoje vou contar uma história fictícia que me contaram a muitos anos atrás. O final é inesperado. Temos após o texto um brinde, um vídeo da "Terça Insana" da Irmã Selma, é de chorar de rir, pelo menos eu gostei... Boa leitura.
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Ricardo Cacilias - Divertindo-se na cozinha
A correria do dia-a-dia e a falta de dinheiro as vezes nos cobram soluções mal pensada. Meu patrão vai se casar e eu fui o único do meu setor quem recebeu o convite: todo chique, gravado em alto relevo num lindo papel acetinado cor champanhe... Igreja da Candelária, Centro do Rio, casamento comentado até em coluna social... eu não poderia dar de presente um ralador de queijo... Com pouco dinheiro e preocupado em não ficar "mal na fita", eu caminhava por uma sofisticada rua de lojas de decorações no Centro do Rio, quando derrepentemente avistei um cena inesperada. Dentro de uma mega-super-loja de decoração, um vaso da famosa e centenária marca francesa de cristais Baccarat caríssimo, caiu no chão e pude acompanhar em câmera lenta seu percurso até o piso, minha boca foi se abrindo junto com os olhos até que se espatifou em diversos pedaços... Naquela hora ouvi a voz do anjinho do mal, que estava sentado do lado esquerdo do meu ombro dizendo: "Acabamos de encontrar o nosso presente..." Entrei na loja e vi um funcionário varrendo os cacos espalhados do tal vaso. Cheguei até o balcão e perguntei para a funcionária: "O que aconteceu?" Ela disse: "Um cliente esbarrou no vazo e ele caiu do pedestal... Estamos sem saber o que fazer, era um vaso muito caro... é um Baccarat Art Deco Selado!!!" Eu não fazia a menor ideia do que era um Baccarat selado, mas continuei:
"Quanto custava esse vaso" Ela respondeu: " 8 mil, 850 reais..." Falei sem disfarçar o susto: "Uallll, que prejuizão... O que vocês vão fazer com os cacos?" "Nós vamos juntar tudo para dar baixa no inventário da loja..." "Posso fazer uma proposta?" "Claro!!" "Porque você não faz um bom preço pra mim, do jeito que ele está, e faz um lindo pacote? Dessa forma você vai diminuir o prejuízo!" A mocinha abriu um sorriso e disse: "Puxa, claro menos mal assim, mas o senhor vai levar um vaso quebrado?" Menti dizendo: "Tudo bem, vou colar em casa..." "Fazemos o seguinte vou cobrar por esse vaso Baccarat quebrado 1.000 reias e faço um pacote bem bonito, pode ser assim..." Concordei imediatamente, pedi apenas que o pacote fosse excepcionalmente lindo... Fui até o banco pegar o dinheiro, quando voltei o pacote estava prontinho, lindérrimo, super chique... meu plano estava em andamento! O casamento seria no sábado as 18hs, a ideia foi ótima, o plano era brilhante e tudo estava dando certo... Aluguei um terno impecável e as 18 hs estava na igreja, com o presente no banco de trás do carro. Casamento lindo... Filmagem, mil fotos. Fomos para a recepção no Gold Room do Copacabana Palace. Como parte do plano, eu deveria entregar o presente, não poderia mandar entregar na casa da noiva... Fui entrando com o belo pacote em mãos; meu patrão me viu e abriu um sorriso...eu correspondi com o mesmo sorriso. Quando eu estava bem próximo, fingi ter tropeçado no tapete de entrada e joguei o pacote para cima... Ohhh, Ahhh, Ihhh... Ouvi interjeições de todos os lados... A caixa do tal presente bateu no assoalho de mármore carrara e fez um barulho de coisa quebrando. Meu patrão veio em minha direção solicitamente me levantar e sua noiva correu em direção ao presente... "Você está bem?" Perguntou meu patrão preocupado, eu disse: "Estou bem mas preocupado, pois tem um vaso lindíssimo no pacote, espero que não tenha se quebrado..." A noiva do meu patrão falou: "Vamos abrir e ver como está?" Eu disse claro!! Era a minha consagração, um vaso Baccarat, presente fino, quem sabe até a lembrança de uma promoção no futuro, o plano vai se consagrar um sucesso.
A noiva do meu patrão assim que abriu o lindo pacote olhou para mim com ar de grande espanto, meu patrão se aproximou e olhou dentro do pacote e também fez a mesma expressão... Eu me sentia consagrado e abri um imenso sorriso. Estava indo em direção a eles com os braços abertos para cumprimentá-los, quando me deram o pacote para olhar o conteúdo; meus olhos fizeram igual aos do desenho animado, entraram na caixa e minha boca ficou seca... A funcionária da loja, com pena deu estar levando um vaso quebrado, embrulhou cada caco com um fino papel de seda ... 
A nobreza dela me transformou num completo idiota...


                             Irmã Selma da "Terça Insana"


sexta-feira, 2 de setembro de 2011

A FALECIDA DO 1008




Em 1982 eu morava no Rio Grande do Sul e minha família no bairro da Tijuca, no Rio de Janeiro, na Rua Conde de Bonfim, ap. 1007. Da nossa janela tínhamos uma linda vista do morro do Sumaré, onde ficam as antenas  
retransmissoras de rádio e televisão. Um dia o carteiro me trouxe uma carta do meu pai com uma história muito engraçada, que mais tarde ele me confirmaria ser tudo verdade, palavra por palavra. Minha irmã Vânia desde sempre adora gatos, deve ter tido até hoje mais de cinquenta, com um detalhe, todos se chamaram "Mimi". Nós tínhamos uma vizinha, dona Jurema, vizinha de porta, moradora do 1008. D. Jurema adorava gatos também, com isso, de vez em quando, ela e Vânia trocavam informações e fitinhas coloridas para enfeitar seus bichanos. D. Jurema já tinha mais de 60 anos e certa vez comentou com minha irmã que todos os dias  
precisava tomar um determinado remédio efervescente para o coração. O remédio era tão importante, que se ela se esquecesse de tomar uma única vez, sentia pressão no peito, palpitações e cansaço. Minha irmã, muito jovem, ficou impressionada com isso e contou à minha mãe. Naquele tempo não existia Facebook, internet, computador e os adolescentes arranjavam outras coisas para fazer e preencher suas tardes depois da aula. Meu irmão Roberto, nessa época com 19 anos, por exemplo, gostava de mixar música, gravar do disco de vinil para a fita K-7, às vezes alterava a rotação, juntava uma música na outra, coisas dos anos 80... Numa tarde de setembro, meu irmão estava no quarto mudando a velocidade de uma música do grupo australiano AC/DC. Nessa música havia um determinado trecho da letra em  
que o vocalista Brian Johnson entoava três vezes o pronome "EU", mas em inglês, é claro: "Ai! Ai! Ai!" Por motivos desconhecidos, Roberto foi diminuindo a rotação da música exatamente nesta passagem deixando o "Ai! Ai! Ai!" cada vez mais triste e cavernooooso. Enquanto ele se divertia com isso, do outro lado da parede, minha irmã estava na sala vendo TV. Derrepente ela parou o que estava fazendo e levantou as sobrancelhas, atônita com aquele som suplicoso, aquele lamento cheio de dor: "Aiii... Aiii... Aiii..." Seu rosto foi ficando comprido e a boca foi se abrindo, levantou-se rapidamente e foi de olhos arregalados procurar minha mãe que preparava o almoço. Ao chegar na porta da cozinha, ela disse aflita: "Mãe... mãe, d. Jurema está passando mal, não está ouvindo? Ela deve ter se esquecido de tomar o remédio do coração!" Ao contrário de minha mãe questionar tão prematura conclusão, ela acabou se aliando às fantasias da minha irmã e rapidamente preencheu as lacunas em branco: "Meu Deus e agora? Ela deve estar aí no corredor se arrastando até aqui para pedir ajuda!!!" Vânia ficou branca como a cera de vela, correu até a porta da sala e enfiou o olho no visor da porta. Minha mãe perguntou aflita, enxugando as mãos no pano de prato: "Tá vendo alguma coisa?" Antes que a Vânia respondesse, Roberto, lá do quarto, distorcia ainda mais a música, fazendo com que o som do AC/DC parecesse os últimos momentos de vida da d. Jurema, agonizante, espumante, com uma das mãos no peito e a outra esticada em direção à porta da nossa sala, clamante de socorro... As duas tontas se olharam e tiveram a mesma reação, encostaram seus ouvidos na porta: "Tá ouvindo alguma coisa, Vânia?" Minha mãe perguntou. A imaginação já era a dona da festa e surpreendentemente Vânia respondeu: "Ela tá dizendo o meu nome..." E começou a produzir as primeiras lágrimas. Minha mãe falou: "Abre a porta, filha!" Vânia não teve coragem de enfrentar tão terrível visão dos últimos momentos de vida da d. Jurema, ali caída, roxinha, possivelmente com seu corpo envolto a gatos assustados... Minha mãe olhou no visor da porta e não viu nada, minha
irmã falou em lágrimas: "Claro que não dá para ver nada, mãe, ela está caída no chão agonizando..." Minha mãe correu para chamar meu irmão: "Roberto, vem ajudar, d. Jurema está morrendo na nossa porta, ela não tomou o remédio!" Roberto desligou o toca-disco e o gravador, abriu a porta do quarto tremendo e, apesar de todos os poderes de Glasgow, do He-Man, entrou em pânico. Só conseguia gritar, gesticulando freneticamente os braços: "Liga pro porteiro, chama o síndico, chama a polícia..." Minha mãe, com o ouvido colado na porta novamente, ergueu a mão pedindo silêncio: "Cala a boca, não estou ouvindo mais nada..." Enquanto seus olhos balançavam de um lado para o outro, como se estivessem ouvindo também através da porta, subitamente olhou para meus irmãos emocionada e disse solenemente: "Ela acaba de falecer! Que droga, na minha porta!!!" Vânia cobriu o rosto com as mãos e chorou. Roberto de pernas trêmulas, ainda perguntou: "O que ela dizia antes de morrer?" As duas, como se ensaiadas estivessem, responderam juntas a mesma frase: "Aaaiii, Aaaiii, Aaaiii..." Roberto riu alto, nervosamente, o que deixou Vânia e minha mãe chocadas por tão terrível falta de respeito à falecida. Ele chamou as duas relutantes até o seu quarto e ligou o gravador. O som que elas escutaram pareceu muito familiar: "AAaaiiii, AAaaiii, AAaaiii..." Diante das duas de boca aberta ele perguntou: "Era isso que vocês estavam ouvindo???" Minha mãe rapidamente apontou o dedo para minha irmã e disse: "Foi ela quem disse que a dona Jurema estava morrendo..." Minha irmã furiosa falou entre os dentes: "Você também ouviu ela gemer..." Finalmente minha mãe foi até a sala, abriu a porta e encontrou o chão vazio, não tinha nada, nem gato, nem d. Jurema, nem uma mortinha se quer... Naquela noite meu pai me escreveu uma carta contando a história da falecida do 1008 e dos três patetas, parando vez por outra para rir muito.


Ricardo Cacilias
02-09-2011