Caminhavam meus olhos pelo teto, evitando a lâmpada para não queimá-los.Até que distraído os deixei piscar, foi um instante apenas entre o nada e o ausente,um piscar de olhos que de tão banal, não governo fazê-lo, apenas acontece...Eis que sou assaltado, nesse espaço de tempo,escondida entre os arbustos da rotina, a traiçoeira e bandida saudade. Valeu-se desse frágil momento para me encharcar de lembranças, colocou palha seca sobre meu peito e ateou o seu fogo mais selvagem em sentimentos que pensava estarem desfeitos dentro de mim. Tão covarde, entrou coração adentro sem licença, sem afago, sem respeito;que por instantes me fez esquecer até de minh'alma que me embrulha a carne.Entre o tempo de um piscar e outro,todos os olhares se fizeram único colados em minha retina;todas as vozes, todos os momentos, todos os toques, todos os cheiros,cantaram como um coral de arcanjos diante do meu assombro.Dominaram meu ser como num assalto bem sucedido ao castelo de minhas emoçõese pela porta que entraram, partiram, me deixando órfão no meu abandono.
cacilias 29-11-18