Meu Blog

A eternidade é o
momento que se renova

Nosce te ipsum
Conhece a ti mesmo
γνωθι σεαυτόν
γνωθι σεαυτόν


quarta-feira, 27 de julho de 2011

SOZINHO...

Às vezes no meu trabalho ao celular pergunto, “você tem um minuto...?” E às vezes a resposta é: “se for só um minuto, eu tenho...” A rotina, o excesso de trabalho e a velocidade com que as coisas precisam acontecer,  somadas as expectativas de resultados cada vez mais contundentes, me fazem distanciar do pessoal, do verdadeiro e do real... Dane-se o coração físico e emocional, dane-se a individualidade e o meu Eu, dane-se qualquer referência pessoal. No apogeu da humanidade no exercício das comunicações, estamos cada vez mais isolados nos feudos de nossas atribulações... Sinto-me só... Muitas vezes os dias parecem entrelaçados como um único dia de 80 horas; e chegar em casa, jantar e dormir são meros detalhes que não me fazem sentir que houve uma descontinuidade do que eu estava fazendo ontem antes de ir para casa, e de agora em que aqui estou... Mudei de roupa?? Parece que cada dia é a cópia do dia anterior e assim sucessivamente... Parece um sonho que repete a mesma cena até o amanhecer... Uns chamam de rotina, outros de carma, outros sei lá do que... Não deixa de ser uma frustração saber que virei um número, uma senha, que faço coisas automatizadas, e que ao puxar a cordinha da minha nuca saem frases pré-estabelecidas, pré-escolhidas e impessoais... Eu tinha nos anos 70 uma expectativa de sucesso e de conquistas que abalaria qualquer roteiro de Hollywood ... Era uma questão de tempo para o mundo se render a minha grandeza, majestade e beleza!!! Eu me esqueci de incluir a realidade nesta sopa... Mais cedo ou mais tarde, desde que você não seja um louco, perceberá que as regras do jogo, no contexto do real, para ter água na sua bica e comida na panela, você tem que fazer muita comida e trazer bastante água para a bica e a panela de muita gente, para que uma pequena porcentagem chegue até você... Não é meu objetivo burilar palavras de pessimismo ou de desesperança. O que é... é! Se eu fosse um camponês no sul do país, ou um pecuarista no norte, minha visão tridimensional do meu existente seria diferente... Ao envelhecer deixamos algumas figurinhas do passado expostas ao sol, e elas vão amarelando, e nos mesmos com elas... Ao envelhecer damos algum crédito as vozes que dizem que o espírito envelhece com carne...  Mas não quero acreditar nisso, NÃO ACREDITE NISSO!!! Não importa o quanto a sua calça esteja apertada, você ainda continuará respirando e colocando o ar da vida para dentro do seu ser... Existe um Deus em que você acredita, existe sua fé, existe a fé em si mesmo. O mundo acabou muitas vezes para muitos que acreditaram no seu fim. Estou buscando acreditar que sempre há um espaço para crescimento A fé é como o vento, você não vê mais sente a sua existência; ela também pode ser como o éter, quando você sente o cheiro ela já se foi... 
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Quer saber qual é o segredo da vida? 
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É a imortalidade que os filhos nos proporcionam... 
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O amor ainda é a única matéria prima que pode nos proteger das loucuras do cotidiano, das renúncias das nossas expectativas, do enfraquecer da fé e da razão que derretem como gelo no verão... o amor é a argila fresca com que moldamos a esperança no amanhã, e sem ele esse amanhã passaria a ser apenas o carbono do ontem...


Ricardo

domingo, 17 de julho de 2011

JILÓ COM PIMENTA...

Não! Não se trata de um prato típico vietnamita, nem uma inspiração alucinógena de uma nutricionista desgostosa; simplesmente é como tem andado o estado de espírito da senhora B ultimamente. Eu baixei um filme de ação na internet que estava super, muito, demais a fim de ver. Como o roteador está no quarto do meu filho, o sinal da banda larga no "refúgio do guerreiro" não é muito forte; levei uma semana para baixar o tal filme. Meu computador também não fica ligado o tempo todo, só quando estou em casa. Enfim, hoje, 17 de julho, domingo, seria o grande dia, ou melhor, a grande noite! Nada de compromissos para domingo a noite, filhos passeando, telefone fora do gancho, celular desligado... A tarde se foi e a noite foi trazendo aquele friozinho gostoso, igual ao ar refrigerado do cinema... Cobertor nas pernas, pipoca no microondas, coca gelada afogando cristalinas pedras de gelo... Silencio profundo! A sala é tomada de uma luz azulada da minha TV Full HD de 42", fui afundando no sofá, o gelo da coca estalando... A torre da 20th Century Fox iluminada por seus fachos de luz é acompanhada da sua inconfundível música tocada bem alto em som estéreo:




sexta-feira, 15 de julho de 2011

O AMOR DOS OSSOS...

Meu misterioso leitor, minha mãe sempre disse que eu sou exagerado, em tudo; isso era dito ternamente com os dentes trincados... É o meu jeito, mecho com as emoções das pessoas, algumas me amam e algumas muitas longe disso.  Sou exagerado mesmo, mergulho de cabeça nas minhas crenças e nos meus labirintos... Sou paixão pura, em tudo que considero. Mas só Deus onipotente e onipresente é perfeito, imaculado e sem defeito; só Deus. Eu tenho os meus defeitos, minhas mancadas e meus momentos pouco reluzentes... Dei umas mancadas com a senhora B e ela tem estado aborrecida comigo. Quando você estupidamente resolve pintar o teto da sua casa com sua camisa nova e linda e a tinta respinga, ela deixou de ser nova e bonita? Claro que não!!! É uma camisa nova, bonita e respingada de tinta. É o ideal? Não! Mas respingou, e transformou o perfeito em menos perfeito... Não bebi o suficiente para achar uma boa ideia entrar em detalhes, mas sinto vontade para deixar a mão do coração teclar o que quiser.

Há uns meses atrás na cidade de Mantova na terra dos pais de minha mãe Malvina, na Itália, arqueólogos acharam uma poesia em forma de ossos.  Foram desenterrados os esqueletos de um casal com 6.000 anos de idade. As primeiras análises revelaram serem ossaturas de dois jovens, um homem e uma mulher, e estavam abraçados. Eu me lembro de ter lido isso nos jornais e fiquei muito comovido quando vi a foto. Imaginei os últimos momentos desse casal, as últimas palavras, o último olhar, sem anel no dedo, sem a bênção cristã, sem nome, sem lápide... apenas unidos pelo mais puro e misterioso amor... Eu os louvo por isso. No seus minutos finais de vida, sei lá o que aconteceu, um terremoto, um tigre dente de sabre, um mamute... eles se abraçaram e assim morreram. Comentei com a miss Daise sobre isso, na época, e disse que gostaria de ter nossos ossos enterrados juntos também em algum lugar; juntos na terra, juntos no infinito... mas ela docilmente disse que eu não poderia ficar na sepultura da família dela... Acho que fiquei com a cara de bobo nessa hora. Exagerado?? Eu sou um exagerado, amo demais, desejo demais... não meço meus ridículos. Ainda acho que vale a pena antenar meu coração com o cosmos e ser autêntico. Se amo, amo! Se gosto, gosto! Se quero, quero! A história do Mundo é traçada por paixões, pelas certezas, pela batalha, pelas conquistas. Nunca fui passarinho de boca aberta esperando por comida, sempre fui à terra buscar as minhas minhocas. Será que vou me separar de novo? Só Ele sabe... Nas palavras de Vinicius: “Que o amor seja eterno enquanto dure”; e o meu não acabou ainda. Lembro de uma certa vez que eu e a senhora B estávamos naquele meu fusca velho, velho mesmo, estacionado em frente a faculdade que estudávamos. Novembro de 1986...Era noite, chovia fino, as folhas das árvores próximas cantavam baixinho. Seguido de um breve e inquietante silêncio e a contemplação de nossos olhos, surgiu um beijo quilométrico, insano, tridimensional, iluminado e inesquecível.
EU E A SENHORA B
Nunca havia acontecido isso comigo antes; não se tratava apenas de bocas e línguas, mas  o entrelaçamento de duas almas... Após aquele momento tão mágico quanto definitivo, me senti casado com ela. Depois desse beijo, todos os meus dias ao seu lado foram especiais para mim. 

Chega de falar, vou dormir.

Nas trincheiras das divagações, 
despeço-me


Ricardo
«Porém mais tarde, quando foi volvido/ 
Das sepulturas o gelado pó, / 
Dois esqueletos, um ao outro unido, /
Foram achados num sepulcro só» 
são os últimos versos de 
«Noivado do Sepulcro», 
elegia ultra-romântica do poeta português 
Soares dos Passos. 




quarta-feira, 13 de julho de 2011

VOCÊ GOSTA DE CHUVA?...






Eu tive uma Bike há muitos anos, na época os bichos ainda falavam algumas palavras. Os entendidos diziam que bastava a bicicleta tomar uma boa chuvarada para ficar limpa, que a água destilada da chuva faz bem para a bicicleta... Esse conceito caiu como uma luva para mim, por essa razão eu nunca lavei a minha Bike, mesmo quando ela não era lavada pela chuva, o que quase nunca acontecia porque eu a guardava dentro de casa... Anos depois eu adotei esse mesmo padrão para a minha lambreta. Waw, quanta bobagem! O fato redundante é que eu amo a chuva. É quando posso saborear um elemento do céu que fica mais próximo das estrelas. Li uma vez que a chuva nos desperta a memórias primitivas, que nos faz sentir bem, sentimento inconfessável principalmente para aqueles que falam mal da chuva. Gosto dessa sensação que o mundo está sendo lavado, limpando as folhas das árvores, sumindo com a poeira no ar, levando a sujeira rua abaixo... Acho delicioso ouvir o som polifônico da chuva, o som de gotas descompassadas criando uma envolvente sinfonia da natureza. São como as notas de uma música celestial, assim como são os sons das ondas, do vento, do rio... A criatividade de Deus é de arrepiar. A chuva é tão bem vinda, que a maioria dos pássaros param de fazer o que mais gostam, só para ficarem vendo ela cair. E o cheiro da chuva? Parece o cheiro da mulher amada... 
Lembra do Gene Kelly na famosa cena do filme "Cantando na Chuva"? Quando eu vi pela primeira vez essas cenas eu era criança, nossa, que vontade de poder fazer o mesmo...
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A chuva é maravilhosa! 

Claro que não estou me referindo a furacões, enchentes, chuva ácida, tempestades, mas ao jeito light de serem naturais. Em dezembro de 1979, um pouco antes de pegar a minha mochila e ir morar no Rio Grande do Sul, eu escutava a Rádio Cidade nos bons tempos do Eládio Sandoval. Num dia como o de hoje, com tanta chuva caindo, o Sandoval perguntou para os ouvintes: "Quem gosta de chuva?" Muita gente ligou para dizer o que pensava sobre a chuva, mas lembro que um cara qualquer disse: "Ver a chuva através do vidro da janela, nos faz sentir protegidos, nos provoca a saudade, incha a nossa alma, nos faz sentir vivos..." Eu era muito jovem e adorei isso. Tem gente que acha que a chuva isola as pessoas, que as impede de ir para a praia e das crianças brincarem lá fora... Bom, há tudo isso para todos os gostos, há chuva e há Sol, mas penso que o Sol valoriza a chuva e a chuva valoriza o Sol. Estarei solitário no mundo onde somente eu e as plantas gostamos da chuva? Minha relação com a chuva é de amor e amor não se explica, vivi-se. Qual foi a sua chuva inesquecível? Aquele momento em que teve a chuva como trilha sonora? Confesso que já dei um beijo de despedia debaixo de chuva, ainda me lembro das roupas molhadas e coladas no corpo,  do frio, do guarda-chuva rodopiando em nossa volta, do gosto salgado da lágrima em minha boca e do respeito da chuva que não se misturou aquele gosto, preservando aquele momento até agora nessa manhã de chuva.
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Coloquei dois vídeos logo abaixo com músicas que falam de chuva, é só clicar. 
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Direto do meu coração para você...




13-07-2011




sexta-feira, 8 de julho de 2011

A MANQUINHA DO MÉIER...

Esse título está politicamente errado, pois aqui no século 21 não nos referimos a uma pessoa por sua característica física, nem religiosa, raça...

Mas meu suposto leitor... nos anos 70 os adolescentes faziam essas maldosas referencias exatamente sobre alguma característica pessoal de alguém. Hoje tenho 52 anos e estou nos anos 10 do século 21. Sou descolado, tenho um entendimento diferenciado do mundo, me considero um cara legal, alguém que você gostaria de conhecer. Gosto de falar, de ouvir, gosto muito de ser gentil com as pessoas, mas confesso que nem sempre fui assim...

Numa noite de sábado, num setembro de 1976, eu com 17 anos e os hormônios andando sobre meus ombros como formigas, fui ao baile com a minha patota maneira. Era assim que se chamava a nossa reunião de sábado a noite dançante - baileTocavam Slade, Elton John, Gary Gliter..., e a patota composta de adolescentes com três fios de barba na cara e um drops Dulcora enooorrrme no bolso, ficavam um desafiando o outro a chamar aquela mina pra dançar. Era divertido. Era curtição. Eu não tinha contas para pagar, eu não tinha o elemento filho para me preocupar, eu era de todas e de ninguém... Comigo éramos cinco caras e naquela altura da noite todos já tinham dançado com alguém, menos EU.

Meu solitário leitor, os caras do século 21 inventaram uma coisa sensacional chamada de FICAR!! Isso é bolação de homem e as meninas ainda não perceberam isso. Ainda me dói tentar entender o que é ficar, ou melhor, tentar aceitar... Pois naquela merda dos anos 70, para ficar com alguém você tinha que namorar a guria, aturar o seu irmão chato e a cara esquisita do seu pai... Sem falar naquele maldito cachorro que vinha cheirar suas partes pudicas e você ficava com cor de berinjela diante da família dela...

Deixa pra lá!

Como estava dizendo, todos já tinham dançado com alguém, menos EU. Me zoaram imperdoavelmente...  Tá com chiclete de coco?...hahahaha, não tomou banho hoje?....hahaha. Oferece dinheiro, quem sabe?...hahaha Então vociferei irritado: Vocês vão ver... vocês vão ver a mina que vou arranjar!!!!! Seus fdp!!! Os risos viraram gargalhadas, e gargalhada de adolescente é maldita, você sabe... Prima não vale....hahaha Fiquem olhando para mim, fiquem de olho em mim...Eu não devia ter dito isso! E me afastei do grupo...

Estava no clube Mackenzie na Rua Dias da Cruz, 561 no Méier, o som estava muito alto eram 11 da noite e meu orgulho de macho adolescente estava bem ferido.

Me afastei e sentei no chão num canto encostado na parede. Os minutos viam e iam até começar a tocar Evie do Johnny Mathis, era o tema de abertura do jornal HOJE da TV Globo que começava a 1 da tarde. As meninas suspiravam, os caras também, mas era inconfessável tal viadagem... 

Nunca fui muito bonito, por isso precisei aprender a arte da argumentação, chacoalhar o charme e temperar meu sex apeal... 

Logo no início dessa música olhei para o lado (o adolescente dessa época parecia um ventilador, olhava de uma lado para outro o tempo todo), e vi uma menina olhar direto no preto dos meus olhos... Ainda olhei para o lado, pensei que poderia ser outro cara... Não tinha ninguém do meu lado... Ela estava olhando para mim!!!... As sirenes tocaram e meu sorriso apareceu tão lilás e fosforescente como a “luz negra” que se usava na época...

No meio daquela música alta eu disse Oi. Eu sentado no chão ela em pé próxima de mim. Ela disse Oi, ou pelo menos pude ler nos seus lábios. Aí levantei! E como um guerreiro que se lança num ataque a sua presa, confiante, garboso, e decidido, cheguei bem juntinho dela e perguntei caprichando na voz grave: Quer dançar?

Dançar era muito legal, pois era o jeito de você chegar seu corpo junto de uma menina ainda que não estivesse namorando com ela. Sentir seu perfume, trocar algumas palavras, quem sabe um beijo... Waallll era muito legal.

Quando fiquei de pé a primeira constatação, ela devia medir um pouco mais de 1,45, sentado e no escuro não avaliei bem. Ela não me tocou, me deu um de gravata na cintura, aí meu sinal amarelo acendeu, algo estava fora do tom. Para completar ela tinha uma perna menor que a outra, bem menor. Parecíamos um barquinho rebocador vencendo as ondas na tempestade, agente caia para um lado e depois tombávamos para o outro... E preso pela cintura eu tinha que fazer o mesmo movimento montanha russa com ela... 

Um gelo me correu a espinha: Fiquem olhando para mim, fiquem de olho em mim... meus amigos!! A cada inclinação eu procurava olhar para os lados, até que avistei todos os quatro rindo e me apontando... Era o fim dos tempos, o próprio armagedom, isso iria se espalhar pela escola, pela rua, pelo país quiçá o mundo inteiro ficaria sabendo...

Depois de uns dois minutos e já bem enjoado ela me perguntou: Qual é o seu nome. Eu disse: Joaquim... Que lindo nome, é o nome do meu avô. Você mora por perto? Eu sou de São Paulo... Ah... Como iria sair dessa situação sem magoar a guria?? Depois de três infinitos minutos daquela maldita música ela falou de novo: Vamos dançar a próxima também? Eu já estava pronto para dizer que iria ao banheiro, quando a outra música começou e ela me apertou mais um pouco. Achei que iria passar o resto da minha vida ali... A música estava quase acabando e me vi dançando a terceira, a quarta, a quinta... não tive saída, precisava fazer alguma coisa e fugir a pé para o Cazaquistão. Lancei mão do Plano Infalível nº1 que detona qualquer relação indesejada, sempre mencionada teoricamente na roda de amigos, mas eu nunca soube de alguém que tenha usado... 

Coloquei os miseráveis atrás de mim enquanto dançava para nada verem, fiz um olhar languido porem severo para ela e disse puxando as vogais no seu ouvido: Como é seu nome?
Ana Maria. Então entrei atirando. Aninha eu sou gay e estou muito sofrido porque o meu bofe está dançando com outra garota....o que que eu faço...??? Falando e fazendo beicinho... Ela afrouxou o nó nas minhas costas e faltavam poucos segundos para começar a terceira música. Gay? O que é gay??? (era uma palavra nova para os anos 70). Não arredei, comecei vou até o fim e falei solenemente levantando a sobrancelha. Viadinho amor! Viadinho! Ela me soltou... A máquina de lavar roupa enfim parou. Ela foi se afastando confusa, 1/2 sorriso, mechendo no cabelo, sem graça e mancando foi sumindo no escuro do baile... 
Eu corri para os fundos do clube... 

Meu imaginário leitor, é constrangedor confessar, mas numa noite fria de setembro de 1976 fui por 15 segundo viado....e meu pai deve estar de bruços na sepultura com essa estória!!

E os amigos?? Que amigos?!!?...

Direto do Humaitá lembrando o Méier,

Ricardo Cacilias
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EVIE
Para os cinquentões como eu,
vamos ouvir a música da tragédia...




terça-feira, 5 de julho de 2011

CONVERSA COM UM MORTO

Infelizmente os textos que definiam nossa relação não nos premiaram com uma longevidade justa e mínima para te mostrar a continuidade dos meus esforços... Muitas vezes achamos que temos a eternidade para colocar as palavras certas para ilustrar certos momentos. Quase sempre esperamos demais, e a hora certa se vai sem aviso prévio. O silêncio pode ser tão cruel quanto absoluto. O tempo e o nosso silêncio foram mercadores que não nos deram descontos. Nem sei onde estão seus ossos, mas ainda sinto o cheiro da sua loção de barba... Nunca mais voltei onde te colocamos, prefiro lembra-lo como um espírito eterno do que dono de carnes sufocadas e desfeitas sob a terra. Sinto teus olhos sobre meus ombros sem poder fita-los, muitas vezes percebo a tua presença, o teu calor, mas sem o prazer de poder te dar o abraço que sempre faltei... A morte é o início, o meio ou o fim? Para mim tem sido apenas a cerca que nos separa. Nunca fomos íntimos, nunca falamos de mulher, nunca bebemos juntos, nunca trocamos nossas confidências, nunca fomos de muitas brincadeiras; nunca fizemos tantas coisa que me fazem continuamente falta. Hoje tenho filhos, dois o senhor não chegou a conhecer, são tão lindos quanto os primeiros. A primeira casou há alguns anos e está preparando o nosso herdeiro. O segundo está noivo e vai se casar em novembro, estaremos lá, sem dúvida. A terceira está apaixonada e o quarto, está em busca daquele abraço para me dar...

Como vê, os erros se repetem.

Nunca olhei nos teus olhos e disse que te amava... Desculpa! Vai em pensamento mesmo, teus ouvidos agora não precisam mais do som para entender. Tivemos que colocar tua mulher no asilo, ela está com Alzheimer, isso dói e desfarela a minha alma, o que me consola é saber que o amor que vocês têm não depende da carne existir. Estou começando a ficar com aquelas manchas que você tinha nas mãos, só não consegui ficar tão maduro e tão eficaz como você sempre foi. Em algumas coisas melhorei muito, pena que não a tempo para te mostrar. Precisei da ajuda feminina para extrair coisas boas de mim, realmente a mulher preenche espaços que nem sabemos ser tão preciosos. Hoje tudo é Skype, computador, e-mail, Facebook, instagran... mas a velha e boa saudade continua sendo a mesma velha e boa saudade. Chega! Fica em paz e até breve pai. Um beijo

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Ricardo

ps. Pai, coloquei aqui um vídeo do Nelson Gonçalves; foi dele o único disco que te vi comprar em toda a sua vida. Mata a saudade, como eu... Um beijo.





domingo, 3 de julho de 2011

CAÍMOS DA LAMBRETA...





Ventava frio naquela noite e os galhos de uma árvore próxima estendiam-se até a minha janela, batiam no vidro como um código morse. Beatriz estava no curso de espanhol, olhei para o relógio e o estomago foi logo dizendo: "São 21:30...". Eu estava recostado sobre os travesseiros da minha cama vendo TV e um cara entrou no Bob's com uma linda morena... Ela sorri e em câmera lenta abre seu sanduíche. De repente ela faz uma cara de surpresa, havia uma aliança sobre  o pão... A câmera dá um zoom em seu rosto, seus olhos brilham como um sorriso até encher toda a tela da TV. Em baixo surge a frase:

                   "AS COISAS ACONTECEM POR AQUI!"

Pensei com meus botões: "Cara, eles falam qualquer coisa pra vender hambúrguer..." Nessa hora senti uma fisgada na cintura... A ponta daquela costela que flutua, deu uma bicada, a mando do coração, para me lembrar da Beatriz ainda na rua aquela hora. Ela deveria estar saindo do curso, sentindo frio e certamente  com fome como eu...
BEATRIZ
A propaganda do hambúrguer me fez lembrar que sou um casal e não apenas um gorila esfomeado! Desliguei a TV e  sai correndo, me apoiando nas paredes do corredor, enfiando o tênis nos pés para resgatar minha prenda... Chegando a encontrei na saído do curso e com ar de cansada. Eu disse: "Oi amor, vim te buscar. Vamos, tá frio..." "Cade o carro?" "A chave ficou na sua bolsa, mas de lambreta é mais rápido..." O trajeto foi tranquilo até chegarmos na São Clemente, apenas a poucos metros para virar na minha rua. Como que materializado de outra dimensão surgiu um caminhão enoooorrrme da COMLURB.1 parado do lado direito da pista. Pensei com meus botões: "Tudo bem é só olhar o espelho e desviar..." Mas tinha uma coisa errada, de uma espécie de torneira gigante jorrava litros e litros de um óleo sei lá qual, sei lá como e sei lá por qual motivo... Beatriz, que é quem pilota a lambreta, falou agitada:"Olha o caminhão!!!" Pensei: "Porra, ela acha que eu piloto de olhos fechados?" Ao perceber que era óleo, o instinto tomou o controle da razão, pois se freasse cairia, se acelerasse cairia, algum movimento brusco cairia e haviam muitos carros passando... Como eu estava em linha de colisão com o caminhão, girei microscopicamente o guidom na esperança de passar raspando e sair dali. E mesmo assim caímos... Sem aderência ao asfalto ficamos igual a um pedaço de manteiga solto dentro de uma frigideira quente. Beatriz foi a primeira, caiu de costas e veio deslisando até parar numa poça de óleo... Eu fiquei agarrado ao guidom com o coração preso entre os dentes, dei quase uma volta inteira no meu eixo e também cai. Arranjei uma poça de óleo para mim também... Mas Deus esticou a sua mão e nos livrou de algo pior do que uma mancha roxa na bunda e aranhões no orgulho próprio. Isso mesmo, meu orgulho de macho se arrebentou todo e foi se espalhando pelo caminho como as peças de um relógio velho... A culpa foi da propaganda do Bob´s, se tivesse sido do McDonald eu teria ouvido: "Eu amo muito tudo isso..." e não teria me dito nada, eu permaneceria em casa quentinho, seco e acolhido pelos meus travesseiros. Mas eles tinham que apelar, e isso me atingiu em cheio. "Você não viu o óleo?" Essa pergunta me doeu mais do que o tombo. "O que você queria que eu fizesse, ligasse as hélices e saisse voando?" "Ai, sujei minha bolsa, minha calça, minha blusa nova..." Beatriz subiu desolada a calçada pingando óleo. Do caminhão não surgiu ninguém, deviam estar abaixados na cabine rindo... Eu, com as pernas tremendo, tentava levantar a lambreta e nenhum FDP veio me ajudar... O mundo é habitado por uma legião de FsDP e uns poucos seres humanos, nessa hora não havia nenhum humano perto de nós. Passei a agir como um gorila enfurecido e faminto. Comecei a gritar, gesticular e a xingar sobre o absurdo que havia acontecido... No meio da minha raiva meus olhos se esbarraram com os dela. Ela estava encolhida e olhava em volta, tentava evitar os olhos dos curiosos. Foi como um balde de água fria. Entendi que um gorila, como eu, não liga para os olhos dos FsDP, mas uma mulher não pensa como um macaco; ela é sensível, se importa, ela fica magoada... Então Beatriz me deu o mesmo olhar que a morena da propaganda fez antes de abrir o sanduíche, o olhar da expectativa. Havia curiosos em volta, os carros buzinavam, o vento estava frio, mas seus olhos pequenos encheram a tela da minha razão e surgiu em baixo desse olhar a frase: "Sou mulher, sua mulher, o que espero de você é que não se esqueça disso". Na mesma hora revi, em câmera lenta, passo a passo dessa merda toda.  Minha cara de idiota assutado caindo da lambreta, a queda dela e meu pescoço virando para trás enquanto caía para ver se ela estava bem, sua bolsa de couro pingando óleo, seu cabelo sujo, seus olhos tristes. Porra, nem um gorila seria tão insensível... Calei a boca, subi na lambreta e estiquei a mão"Vamos embora daqui!" Ela viu que eu havia "entubado" a raiva. Aproximou-se em silêncio, subiu na lambreta e fomos para casa. Que fim de noite!!! 
No dia seguinte dor aqui, dor ali... Lembrei de ter lido uma vez que quando uma coisa ruim acontece, para que não fiquemos com traumas, temos que insistir no uso da coisa que causou o constrangimento o mais cedo possível para desfazer o sentimento ruim. Então disse para a "miss Dayse": "Vou te levar no trabalho de lambreta..." Ao ouvir isso, ela produziu uma inacreditável cara com mistura de "vai a merda" com "some daqui", mas acabou aceitando meus argumentos  e fomos.
No trajeto para a escola, onde ela dá aula, comecei a perceber uma mudança de atitude e que passou a ser um padrão toda vez que andamos de lambreta... Tal qual se faz com os arreios de um cavalo, ela, na garupa, vai puxando a minha roupa na direção que julga ser a correta. Achei esquisito aquilo, mas não disse nada e resolvi obedecer ao cabresto... E assim estamos levando. Ela puxando os arreios e eu fingindo não perceber. Não sei se essa mudança de comportamento é trauma da queda ou se ela arranjou um jeito sutil de me chamar de burro... 
Será?  

Ricardo Cacilias
  03-07-2011
dedicado aos homens que 
sabem preservar a mulher

(1) Empresa de limpeza urbana da prefeitura do Rio



sexta-feira, 1 de julho de 2011

A MULHER QUE EU AMO...

Roberto escreveu uma linda canção, apenas piano, voz e violino... com esse título, A Mulher que eu Amo.
Waaallll!!
O Mundo é grande, mas nem todos os homens que nele habita podem dizer que tem uma Mulher para amar (mãe não vale). Não que amar uma mulher nos deixa mais estúpidos, cegos e dependentes do que já somos, mas as vezes elas gostam de nos lembrar disso.
No entanto faz parte do “pacote”, quando nos apaixonamos, reconhecer a humanidade e todas as circunstâncias que isso trás a outra pessoa. O amor, quando verdadeiro, nos faz somar ao outro, nos faz compensar onde precisamos de preenchimento, nos conduz a divisão da alegria e da falta dela.
Uma vez a mulher que eu amo me perguntou, “porque você gostou de mim?...”, eu tinha todas as respostas para isso, só não conseguia ordená-las em minha boca. Fiquei mudo. Ela se aborreceu e eu fiquei mais mudo ainda. Os mistérios por sua própria natureza se mostram e se ocultam como uma moeda girando, onde você identifica um dos lados e ao mesmo tempo o outro vem para te confundir.
Às vezes a mulher que eu amo me dá raiva com seu jeito de “guardiã das verdades do Mundo”, argh!! A mulher que eu amo, tem uma peculiar capacidade de me fazer sentir uma criança de fralda cheia, a mulher que eu amo as vezes parece um delgado interrogando um meliante, a mulher que eu amo as vezes não parece em nada com alguém que eu possa afirmar que é alguém que eu amo...
Esse é um dos lados dessa moeda que gira entre meu coração e meu entendimento.
Mas às vezes as asas desse mistério me tocam me fazendo lembrar dela. Em meus pensamentos vejo seu sorriso e minha boca se estica sorrindo, lembro de suas frases, dos seus medos de mulher, do seu pavor de barata, dos seus dedos finos, da fragilidade do seu corpo nu e entregue a minha bestial paixão... 
Sinto-me integralmente abençoado e responsável por sua vida, como um jogador faz ao pegar a bola e chama para si a responsabilidade de bater um pênalti.

A mulher que eu amo 
também é pequena, tem 
a paz nos seu olhos de 
amêndoa, é a minha vida, 
a luz onde me acho na 
escuridão, e tudo nela é 
muito verdade!!

E a moeda gira gira gira e 
que Deus permita que 
seja eterno o seu movimento.                                                                                                                                 
Te amo

Segue abaixo a letra da
canção que me faz lembrar dela.
A mulher que eu amo / Tem a pele morena / É bonita, é pequena / E me ama também
A mulher que eu amo / Tem tudo que eu quero / E até mais do que espero / Encontrar em alguém
A mulher que eu amo / Tem um lindo sorriso / É tudo que eu preciso / Pra minha alegria
A mulher que eu amo / Tem nos olhos a calma / Ilumina minha alma / É o sol do meu dia
Tem a luz das estrelas / E a beleza da flor / Ela é minha vida / Ela é o meu amor
A mulher que eu amo / É o ar que eu respiro / E nela eu me inspiro / Pra falar de amor
Quando vem pra mim / É suave como a brisa / E o chão que ela pisa / Se enche de flor
A mulher que eu amo / Enfeita a minha vida / Meus sonhos realiza / Me faz tanto bem
Seu amor é pra mim / O que há de mais lindo / Se ela está sorrindo / Eu sorrio também
Tudo nela é bonito / Tudo nela é verdade / E com ela eu acredito / Na felicidade
Valeu Roberto!!